Um Verdadeiro Ministro Cristão é Fiel para Confrontar Questões que Afetam a Glória do Senhor
(cap. 2:1-13)
Paulo torna a abordar outro assunto que dizia
respeito à assembleia em Corinto. Os coríntios precisavam saber o que fazer com
o homem que eles tinham colocado fora de comunhão, que agora estava
arrependido. Paulo torna a abordar
isto no capítulo 2. Ao mesmo tempo, ele esclarece outro equívoco que tinham
dele. Fazendo isto Paulo toca em outra característica que deveria marcar um
verdadeiro ministro de Cristo – fidelidade
para confrontar questões entre os santos que afetam a glória de Deus.
Alguns
dos coríntios estavam dizendo que Paulo era um homem duro e insensível.
Escrevendo uma carta tão severa como ele escreveu (a primeira epístola) e
exigindo a excomunhão do homem imoral do meio deles, confirmou isto nas suas
mentes. Eles podem ter pensado que chamar o homem de “esse iníquo” (1 Co 5:13) era excessivamente crítico – até mesmo
cruel. Esta crítica, sem dúvida, veio daquele mesmo grupo de opositores que
procuraram desacreditar o ministério do apóstolo. Portanto, ele se compromete a
explicar suas ações.
Vs.
1-3 – Paulo reitera seu propósito de não ir a Corinto “em tristeza” e exercer disciplina apostólica sobre eles. Em vez
disso, enviou a carta de correção. Pelas resultados obtidos, lidar com o
assunto dessa maneira apenas confirmou a sabedoria em tratá-lo. Além disso, os
próprios coríntios, em certo sentido, reconheceram essa sabedoria! Eles
receberam a carta e acertaram as coisas que estavam deficientes na assembleia,
e ao fazê-lo, estavam realmente concordando com sua linha de ação de não ter
ido a Corinto, como planejava, e, em vez disso, enviar a carta.
A
primeira epístola fez com que eles se entristecessem, como ele pretendia que
fizessem (v. 2). Eles foram “entristecidos
para o arrependimento (...) segundo
Deus” (ATB) e acertaram as desordens que ele apontou. Isto foi bom e
contribuiu para a “salvação” da
assembleia do julgamento que sobre ela viria diretamente de Deus, ou pela mão
do apóstolo (2 Co 7:9-11).
Enquanto
o conteúdo da primeira carta fez os coríntios ficarem “entristecidos”, o arrependimento deles fez Paulo ficar “alegre”. Os “mesmos” (os coríntios) que se sentiram entristecidos por ele,
agora o alegraram. (No versículo 2 da KJV “quem
é ele então que me alegrará?”, a
palavra “ele” não existe no texto original, e poderia nos induzir a pensar que
Paulo estava falando sobre o ofensor que foi tirado da comunhão. No entanto,
estava falando da assembleia como um todo).
Ele
enviou a carta antes, assim quando ele fosse, iria “confiando” e não com tristeza, e o resultado seria que sua “alegria” seria a “alegria” deles (v. 3).
Vs.
4-5 – Ele vai adiante e mostra que não era uma pessoa insensível sem
sentimentos pelos santos. Deixou-o muito consternado dirigir-se a eles como fez
na primeira carta. Não foi algo fácil de fazer porque os amava profundamente.
Ele diz “Porque em muita tribulação e angústia
do coração vos escrevi, com muitas lágrimas”. A verdade é que ele escreveu
essa carta de correção por fidelidade ao Senhor. Tinha de ser feito para a
glória de Deus. Aqueles males entre eles simplesmente não podiam continuar em
associação com o nome do Senhor.
Ele não “varreu para baixo do tapete”, mas fielmente confrontou as questões que
eram necessárias no meio deles. Ele não tinha alegria em dizer-lhes que tinham
de afastar o homem, mas a fidelidade ao Senhor exigiu isso.
Paulo
não estava tentando entristecê-los por razão alguma, mas que eles “conhecessem o amor” que ele tinha “abundantemente” por eles. O amor
falará fielmente. “Fiéis são as feridas feitas pelo que ama” (Pv 27:6).
No entanto, ao ser fiel com os coríntios, ele foi mal interpretado, mas esse é
frequentemente o caso. Pode-se esperar que, se formos fiéis em relação às
questões da assembleia, possivelmente poderemos ser mal compreendidos.
Aqueles
que haviam pecado entre eles não apenas entristeceram Paulo, mas “em parte” entristeceram a “todos”. Os tais estavam trazendo
problemas a todos na reunião. Por causa da sua associação com o malfeitor, Deus
considerou toda a assembleia responsável (1 Co 11:30). Isto é ilustrado no
relato de Acã. Quando ele pecou, o Senhor disse a Josué, “Israel pecou” (Js 7:11). Seu pecado pessoal de cobiça e engano
afligiu todo o Israel, e custou a vida dele (Js 7:25; 1 Cr 2:7).
Paulo
disse “em parte” porque nem todos os
santos de Corinto estavam tristes com a desonra que isso trouxe ao nome do
Senhor. No entanto, a assembleia ainda era responsável por lidar com isso, e
felizmente eles o fizeram. Isso mostra que não é necessário unanimidade na
assembleia antes que ela haja administrativamente em uma decisão de julgamento
de ligar ou desligar.
V.
6 – O apóstolo agora indica que a assembleia precisava receber de volta em
comunhão o homem que tinha sido colocado fora de comunhão. Isto certamente
mostrou que ele se preocupava com o homem, e que não era cruel e implacável.
Ele diz, “Basta-lhe ao tal esta
repreensão feita por muitos”.
A censura colocada sobre ele funcionou e o trouxe ao arrependimento diante do
Senhor, e agora era hora de recebê-lo de volta em comunhão. Este é um momento
feliz para uma assembleia.
Paulo
disse “feita por muitos”. A nota de
rodapé da tradução J. N. Darby de 2 coríntios 2:6 indica que “muitos” é o corpo como um todo – a
massa dos santos universalmente. Ele cita 2 coríntios 9:2 como exemplo de uso e
significado. O ponto aqui é que, se uma assembleia local deve tomar uma decisão
de ligação colocando alguém fora de comunhão, o corpo como um todo age em
conjunto com aquela assembleia local e reconhece a ação, então aquela pessoa “afastada” é considerada “fora” em todas as outras reuniões
também, não só na localidade onde reside. Portanto, o ofensor é levado a sentir
a repreensão por mais do que apenas aqueles que estão em sua assembleia local.
Não dizemos que o homem em questão realmente foi a outras localidades e sentiu
a “repreensão” deles, mas que a
execução da ação foi expressa universalmente – pelo corpo como um todo. Se uma
pessoa tiver de ser tirada de comunhão numa determinada localidade, ela deve
ser considerada fora da comunhão em toda a Terra, porque o que é feito em nome
do Senhor em uma assembleia local na prática afeta o todo. Isto mostra que as
assembleias que se reúnem no terreno bíblico, como reunidos ao nome do Senhor,
não são autônomas. Eles agem juntos, expressando a verdade que são um corpo (Ef
4:4).
Vs.
7-8 – Paulo diz a eles, primeiramente para “perdoar”
o homem, e “consolá-lo [encorajá-lo – JND]” no Senhor. Paulo rogou-lhes: “que
confirmeis para com ele o vosso amor [afirmassem
– JND]”. Esta foi a sanção do
apóstolo permitindo agora que o homem arrependido tivesse comunhão com os
santos. O fato de que o homem estava expressando “tristeza” sobre o que tinha feito indicava que o arrependimento
estava operando em sua alma. Paulo diz “deveis”.
Isto significa que todos os santos em unidade deveriam mostrar graça para com o
ofensor arrependido; isto não deveria ser feito por poucos que se sentissem
assim, mas por todos os santos. Algumas vezes nesse tipo de situação se torna
evidente que há alguns que têm um espírito implacável e resistem, mas não é
isto que Paulo deseja aqui.
A
palavra “perdão” no versículo 7 (na
KJV) deveria ser na realidade traduzida como “mostrar graça”. (veja também Lucas 7:42). Depois, no versículo 10,
outra palavra é usada na linguagem original que está corretamente traduzida “perdão” na KJV. Isto se refere ao
perdão administrativo – a retirada oficial da censura colocada sobre uma pessoa
em excomunhão, por meio do qual ela estaria novamente em plena comunhão como
antes. O fato de mostrar graça ser
mencionado antes e separado do perdão
administrativo indica que a assembleia tem a opção de exercer graça para com
uma pessoa arrependida antes de realmente retirar o julgamento administrativo.
A assembleia poderia escolher permitir que uma pessoa, a quem estão procurando
restaurar, andasse novamente entre os santos, sem que ela tivesse o privilégio
de comunhão completa participando da Ceia do Senhor. Sob condições normais, as
duas coisas precisariam ser feitas juntas, mas pode haver certos casos onde a
assembleia precise observar a profundidade de arrependimento da pessoa antes
que seja confortável recebê-la de volta em comunhão, e estes versículos
permitem isso. Uma palavra de cautela aqui; se uma assembleia decide tratar um
caso desta maneira, deve atentar para que todos na assembleia ajam juntos,
fazendo um anúncio com esse fim.
Há
uma figura desses dois passos para restauração à Mesa do Senhor, em Levítico
14, na limpeza do leproso. Após o leproso ser limpo, a ele era dada liberdade
de entrar no arraial de Israel novamente, mas não lhe era permitido retornar a
sua posição original imediatamente. Ele tinha de ficar “fora da sua tenda por sete dias” (Lv 14:8). E então após mais
lavagens e ser cortado todo o seu pelo (o que fala de julgamento próprio), ele
era autorizado a retornar a sua tenda.
Vs.
9-10 – Paulo afirma que a maneira com que eles tratassem da questão da restauração
à comunhão, do ofensor arrependido, seria para ele uma “prova” se eram “obedientes
em tudo”. Ele acrescenta, “E a quem [vós] perdoardes alguma coisa
também eu”. “[Vós]” neste versículo refere-se à assembleia de Corinto. Com isso, ele
indicou que era a assembleia em Corinto que deveria retirar a censura imposta
ao homem, já que foram eles que a impuseram. Embora Paulo tivesse autoridade
para agir apostolicamente nesta questão e restaurar o homem à comunhão, ele
escolheu esperar até que a assembleia em Corinto agisse, e então daria um passo
em acordo com eles e também perdoaria a pessoa. Temos grande instrução aqui.
Aprendemos que a assembleia local (onde ocorre a ação de julgamento de ligar ou
desligar) deve agir primeiro retirando
a censura que colocaram sobre o ofensor, perdoando-o administrativamente. Os
santos de outras localidades (o corpo como um todo) devem, então, agir em
harmonia com isso e também perdoar a pessoa. Se o ofensor restaurado fosse
visitar outras assembleias, elas iriam recebê-lo. Agindo assim, a verdade de o “um só corpo” é expressada na prática.
Os
santos no corpo como um todo não devem interferir em outra assembleia em sua
responsabilidade administrativa. Eles não devem se adiantar à assembleia local
recebendo uma pessoa porque acreditam que ela está arrependida; isso leva à
confusão. Embora a pessoa possa estar muito bem arrependida e pronta para ser
recebida (como era o caso aqui), ainda assim os santos devem agir juntos na
questão. O caminho de Deus é que a assembleia local, que aplicou a censura,
deve agir primeiro em nome do corpo como um todo. As vozes de irmãos de outras
localidades poderiam fazer conhecidos seus exercícios àquela assembleia, como
ilustrado pelo apóstolo Paulo encorajando os coríntios a receberem o homem
arrependido, mas a efetiva retirada da ação (liberação) é puramente de
responsabilidade daquela assembleia (Mt 18:18).
V.
11 – Paulo segue dizendo “para que [nós] não sejamos vencidos por Satanás; Porque não ignoramos os seus ardis”.
Ele não diz “para que [vocês] não
sejam vencidos por Satanás” – os coríntios. “Nós” refere-se aos santos como um todo no “um só corpo”. Paulo sabia que uma das táticas de Satanás é dividir
os santos da maneira que puder, e esses assuntos delicados Inter assembleias
são um lugar onde é provável que atue. Este é um dos seus “instrumentos” que
não devemos ignorar.
Sabendo
que Satanás tentará usar essas circunstâncias para dividir os santos, Paulo
mostra em suas ações como temos de agir nessas questões de liberar julgamentos
da assembleia (exercendo perdão administrativo). Embora ele, e talvez outros,
soubessem que o homem estava arrependido e deveria ser restaurado à comunhão,
ele não foi adiante da assembleia em Corinto agindo independentemente. Agindo
juntos nessas questões interassembleia, “a
unidade do Espírito” é mantida “pelo
vínculo da paz”. Divisões entre assembleias reunidas ao nome do Senhor
resultaram de pessoas bem intencionadas agindo independentemente nessas
questões.
Vs.
12-13 – Para mostrar a genuína preocupação que Paulo tinha pela assembleia dos coríntios,
ele lhes fala da ansiedade que tinha em relação a como receberiam sua primeira
carta. Apesar de que havia para ele “uma
porta” aberta “no Senhor” para
pregar o evangelho em Trôade enquanto esperava que Tito viesse com a notícia de
como eles receberam a carta, não teve descanso em seu espírito até saber que o
assunto estava resolvido. Portanto, ele deixou o trabalho e atravessou o Mar
Egeu para a Macedônia para encontrar Tito, que estava subindo a costa com as
notícias. Capítulo 7:6-7 nos diz que Tito encontrou Paulo na Macedônia com boas
notícias que os coríntios haviam lamentado seus erros e acertado as coisas na
assembleia.
Ao
reiterar isso aos coríntios, Paulo mostrou a profundidade de sua preocupação
por eles. Ele não era um homem duro e crítico como alguns deles imaginavam que
fosse. Ao contrário, tinha tanto cuidado por eles que escolheu renunciar ao
trabalho do evangelho para saber da resposta deles à sua primeira epístola!
Suas preocupações pastorais prevaleceram sobre seu fervor evangelístico. Paulo
tinha sido um ministro fiel ao apontar os erros deles, mas também era um
ministro carinhoso e amoroso que tinha o bem deles em seu coração.
Isto
nos ensina que as questões que pertencem à assembleia deveriam ter precedência
aos serviços no evangelho. Aquilo que pertence à unidade da assembleia deve ser
de extrema preocupação para nós. Muitos pensam que o serviço do evangelho é o
serviço mais alto que podemos render a Deus, mas na realidade, sustentar e
manter a verdade da Igreja que uma vez foi dada aos santos deveria ser nossa
primeira preocupação (Jd 3). Infelizmente, alguns que sabem disso usam-no para
dispensar completamente o trabalho do evangelho de suas atividades, mas isso é
um desequilíbrio na direção oposta.
A
essa altura, se os coríntios tivessem lido esta carta apropriadamente, teria
ficado muito claro para eles que tinham tido uma impressão errada de Paulo –
eles haviam mal entendido Paulo totalmente. Alguém entre eles havia insinuado
que ele era um sujeito problemático que se envolveu em numerosos incidentes com
as autoridades, mas ele mostrou que, realmente, Deus permitiu que se envolvesse
nessas situações para proveito deles (cap.
1:3-11). Eles também o acusaram de inconstância em seus planos de ir a Corinto,
mas ele mostrou que não tinha ido por causa de seu desejo de poupá-los de
julgamento e não que fosse uma pessoa de duas palavras (cap. 1:12-24). Eles
também insinuaram que era um homem duro e insensível, ordenando que o homem
imoral no meio deles, fosse tirado da comunhão – até mesmo o chamando de pessoa
iníqua, mas ele mostrou que foi por fidelidade ao Senhor que havia ordenado
aquela ação contra o homem (cap. 2:1-13). Aprender da explanação de Paulo sobre
essas questões os ajudaria muito a restaurar sua confiança nele como um
verdadeiro ministro de Cristo.
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