domingo, 2 de setembro de 2018

Um Verdadeiro Ministro Cristão é Fiel para Confrontar Questões que Afetam a Glória do Senhor (cap. 2:1-13)


Um Verdadeiro Ministro Cristão é Fiel para Confrontar Questões que Afetam a Glória do Senhor
(cap. 2:1-13)

Paulo torna a abordar outro assunto que dizia respeito à assembleia em Corinto. Os coríntios precisavam saber o que fazer com o homem que eles tinham colocado fora de comunhão, que agora estava arrependido. Paulo torna a abordar isto no capítulo 2. Ao mesmo tempo, ele esclarece outro equívoco que tinham dele. Fazendo isto Paulo toca em outra característica que deveria marcar um verdadeiro ministro de Cristo – fidelidade para confrontar questões entre os santos que afetam a glória de Deus.
Alguns dos coríntios estavam dizendo que Paulo era um homem duro e insensível. Escrevendo uma carta tão severa como ele escreveu (a primeira epístola) e exigindo a excomunhão do homem imoral do meio deles, confirmou isto nas suas mentes. Eles podem ter pensado que chamar o homem de “esse iníquo” (1 Co 5:13) era excessivamente crítico – até mesmo cruel. Esta crítica, sem dúvida, veio daquele mesmo grupo de opositores que procuraram desacreditar o ministério do apóstolo. Portanto, ele se compromete a explicar suas ações.
Vs. 1-3 – Paulo reitera seu propósito de não ir a Corinto “em tristeza” e exercer disciplina apostólica sobre eles. Em vez disso, enviou a carta de correção. Pelas resultados obtidos, lidar com o assunto dessa maneira apenas confirmou a sabedoria em tratá-lo. Além disso, os próprios coríntios, em certo sentido, reconheceram essa sabedoria! Eles receberam a carta e acertaram as coisas que estavam deficientes na assembleia, e ao fazê-lo, estavam realmente concordando com sua linha de ação de não ter ido a Corinto, como planejava, e, em vez disso, enviar a carta.
A primeira epístola fez com que eles se entristecessem, como ele pretendia que fizessem (v. 2). Eles foram “entristecidos para o arrependimento (...) segundo Deus” (ATB) e acertaram as desordens que ele apontou. Isto foi bom e contribuiu para a “salvação” da assembleia do julgamento que sobre ela viria diretamente de Deus, ou pela mão do apóstolo (2 Co 7:9-11).
Enquanto o conteúdo da primeira carta fez os coríntios ficarem “entristecidos”, o arrependimento deles fez Paulo ficar “alegre”. Os “mesmos” (os coríntios) que se sentiram entristecidos por ele, agora o alegraram. (No versículo 2 da KJV “quem é ele então que me alegrará?”, a palavra “ele” não existe no texto original, e poderia nos induzir a pensar que Paulo estava falando sobre o ofensor que foi tirado da comunhão. No entanto, estava falando da assembleia como um todo).
Ele enviou a carta antes, assim quando ele fosse, iria “confiando” e não com tristeza, e o resultado seria que sua “alegria” seria a “alegria” deles (v. 3).
Vs. 4-5 – Ele vai adiante e mostra que não era uma pessoa insensível sem sentimentos pelos santos. Deixou-o muito consternado dirigir-se a eles como fez na primeira carta. Não foi algo fácil de fazer porque os amava profundamente. Ele diz “Porque em muita tribulação e angústia do coração vos escrevi, com muitas lágrimas”. A verdade é que ele escreveu essa carta de correção por fidelidade ao Senhor. Tinha de ser feito para a glória de Deus. Aqueles males entre eles simplesmente não podiam continuar em associação com o nome do Senhor. Ele não “varreu para baixo do tapete”, mas fielmente confrontou as questões que eram necessárias no meio deles. Ele não tinha alegria em dizer-lhes que tinham de afastar o homem, mas a fidelidade ao Senhor exigiu isso.
Paulo não estava tentando entristecê-los por razão alguma, mas que eles “conhecessem o amor” que ele tinha “abundantemente” por eles. O amor falará fielmente. “Fiéis são as feridas feitas pelo que ama” (Pv 27:6). No entanto, ao ser fiel com os coríntios, ele foi mal interpretado, mas esse é frequentemente o caso. Pode-se esperar que, se formos fiéis em relação às questões da assembleia, possivelmente poderemos ser mal compreendidos.
Aqueles que haviam pecado entre eles não apenas entristeceram Paulo, mas “em parte” entristeceram a “todos”. Os tais estavam trazendo problemas a todos na reunião. Por causa da sua associação com o malfeitor, Deus considerou toda a assembleia responsável (1 Co 11:30). Isto é ilustrado no relato de Acã. Quando ele pecou, o Senhor disse a Josué, “Israel pecou” (Js 7:11). Seu pecado pessoal de cobiça e engano afligiu todo o Israel, e custou a vida dele (Js 7:25; 1 Cr 2:7).
Paulo disse “em parte” porque nem todos os santos de Corinto estavam tristes com a desonra que isso trouxe ao nome do Senhor. No entanto, a assembleia ainda era responsável por lidar com isso, e felizmente eles o fizeram. Isso mostra que não é necessário unanimidade na assembleia antes que ela haja administrativamente em uma decisão de julgamento de ligar ou desligar.
V. 6 – O apóstolo agora indica que a assembleia precisava receber de volta em comunhão o homem que tinha sido colocado fora de comunhão. Isto certamente mostrou que ele se preocupava com o homem, e que não era cruel e implacável. Ele diz, “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos”. A censura colocada sobre ele funcionou e o trouxe ao arrependimento diante do Senhor, e agora era hora de recebê-lo de volta em comunhão. Este é um momento feliz para uma assembleia.
Paulo disse “feita por muitos”. A nota de rodapé da tradução J. N. Darby de 2 coríntios 2:6 indica que “muitos” é o corpo como um todo – a massa dos santos universalmente. Ele cita 2 coríntios 9:2 como exemplo de uso e significado. O ponto aqui é que, se uma assembleia local deve tomar uma decisão de ligação colocando alguém fora de comunhão, o corpo como um todo age em conjunto com aquela assembleia local e reconhece a ação, então aquela pessoa “afastada” é considerada “fora” em todas as outras reuniões também, não só na localidade onde reside. Portanto, o ofensor é levado a sentir a repreensão por mais do que apenas aqueles que estão em sua assembleia local. Não dizemos que o homem em questão realmente foi a outras localidades e sentiu a “repreensão” deles, mas que a execução da ação foi expressa universalmente – pelo corpo como um todo. Se uma pessoa tiver de ser tirada de comunhão numa determinada localidade, ela deve ser considerada fora da comunhão em toda a Terra, porque o que é feito em nome do Senhor em uma assembleia local na prática afeta o todo. Isto mostra que as assembleias que se reúnem no terreno bíblico, como reunidos ao nome do Senhor, não são autônomas. Eles agem juntos, expressando a verdade que são um corpo (Ef 4:4).
Vs. 7-8 – Paulo diz a eles, primeiramente para “perdoar” o homem, e “consolá-lo [encorajá-lo – JND] no Senhor. Paulo rogou-lhes: “que confirmeis para com ele o vosso amor [afirmassem – JND]. Esta foi a sanção do apóstolo permitindo agora que o homem arrependido tivesse comunhão com os santos. O fato de que o homem estava expressando “tristeza” sobre o que tinha feito indicava que o arrependimento estava operando em sua alma. Paulo diz “deveis”. Isto significa que todos os santos em unidade deveriam mostrar graça para com o ofensor arrependido; isto não deveria ser feito por poucos que se sentissem assim, mas por todos os santos. Algumas vezes nesse tipo de situação se torna evidente que há alguns que têm um espírito implacável e resistem, mas não é isto que Paulo deseja aqui.
A palavra “perdão” no versículo 7 (na KJV) deveria ser na realidade traduzida como “mostrar graça”. (veja também Lucas 7:42). Depois, no versículo 10, outra palavra é usada na linguagem original que está corretamente traduzida “perdão” na KJV. Isto se refere ao perdão administrativo – a retirada oficial da censura colocada sobre uma pessoa em excomunhão, por meio do qual ela estaria novamente em plena comunhão como antes. O fato de mostrar graça ser mencionado antes e separado do perdão administrativo indica que a assembleia tem a opção de exercer graça para com uma pessoa arrependida antes de realmente retirar o julgamento administrativo. A assembleia poderia escolher permitir que uma pessoa, a quem estão procurando restaurar, andasse novamente entre os santos, sem que ela tivesse o privilégio de comunhão completa participando da Ceia do Senhor. Sob condições normais, as duas coisas precisariam ser feitas juntas, mas pode haver certos casos onde a assembleia precise observar a profundidade de arrependimento da pessoa antes que seja confortável recebê-la de volta em comunhão, e estes versículos permitem isso. Uma palavra de cautela aqui; se uma assembleia decide tratar um caso desta maneira, deve atentar para que todos na assembleia ajam juntos, fazendo um anúncio com esse fim.
Há uma figura desses dois passos para restauração à Mesa do Senhor, em Levítico 14, na limpeza do leproso. Após o leproso ser limpo, a ele era dada liberdade de entrar no arraial de Israel novamente, mas não lhe era permitido retornar a sua posição original imediatamente. Ele tinha de ficar “fora da sua tenda por sete dias” (Lv 14:8). E então após mais lavagens e ser cortado todo o seu pelo (o que fala de julgamento próprio), ele era autorizado a retornar a sua tenda.
Vs. 9-10 – Paulo afirma que a maneira com que eles tratassem da questão da restauração à comunhão, do ofensor arrependido, seria para ele uma “prova” se eram “obedientes em tudo”. Ele acrescenta, “E a quem [vós] perdoardes alguma coisa também eu”. [Vós] neste versículo refere-se à assembleia de Corinto. Com isso, ele indicou que era a assembleia em Corinto que deveria retirar a censura imposta ao homem, já que foram eles que a impuseram. Embora Paulo tivesse autoridade para agir apostolicamente nesta questão e restaurar o homem à comunhão, ele escolheu esperar até que a assembleia em Corinto agisse, e então daria um passo em acordo com eles e também perdoaria a pessoa. Temos grande instrução aqui. Aprendemos que a assembleia local (onde ocorre a ação de julgamento de ligar ou desligar) deve agir primeiro retirando a censura que colocaram sobre o ofensor, perdoando-o administrativamente. Os santos de outras localidades (o corpo como um todo) devem, então, agir em harmonia com isso e também perdoar a pessoa. Se o ofensor restaurado fosse visitar outras assembleias, elas iriam recebê-lo. Agindo assim, a verdade de o “um só corpo” é expressada na prática.
Os santos no corpo como um todo não devem interferir em outra assembleia em sua responsabilidade administrativa. Eles não devem se adiantar à assembleia local recebendo uma pessoa porque acreditam que ela está arrependida; isso leva à confusão. Embora a pessoa possa estar muito bem arrependida e pronta para ser recebida (como era o caso aqui), ainda assim os santos devem agir juntos na questão. O caminho de Deus é que a assembleia local, que aplicou a censura, deve agir primeiro em nome do corpo como um todo. As vozes de irmãos de outras localidades poderiam fazer conhecidos seus exercícios àquela assembleia, como ilustrado pelo apóstolo Paulo encorajando os coríntios a receberem o homem arrependido, mas a efetiva retirada da ação (liberação) é puramente de responsabilidade daquela assembleia (Mt 18:18).
V. 11 – Paulo segue dizendo “para que [nós] não sejamos vencidos por Satanás; Porque não ignoramos os seus ardis”. Ele não diz “para que [vocês] não sejam vencidos por Satanás” – os coríntios. “Nós” refere-se aos santos como um todo no “um só corpo”. Paulo sabia que uma das táticas de Satanás é dividir os santos da maneira que puder, e esses assuntos delicados Inter assembleias são um lugar onde é provável que atue. Este é um dos seus “instrumentos” que não devemos ignorar.
Sabendo que Satanás tentará usar essas circunstâncias para dividir os santos, Paulo mostra em suas ações como temos de agir nessas questões de liberar julgamentos da assembleia (exercendo perdão administrativo). Embora ele, e talvez outros, soubessem que o homem estava arrependido e deveria ser restaurado à comunhão, ele não foi adiante da assembleia em Corinto agindo independentemente. Agindo juntos nessas questões interassembleia, “a unidade do Espírito” é mantida “pelo vínculo da paz”. Divisões entre assembleias reunidas ao nome do Senhor resultaram de pessoas bem intencionadas agindo independentemente nessas questões.
Vs. 12-13 – Para mostrar a genuína preocupação que Paulo tinha pela assembleia dos coríntios, ele lhes fala da ansiedade que tinha em relação a como receberiam sua primeira carta. Apesar de que havia para ele “uma porta” aberta “no Senhor” para pregar o evangelho em Trôade enquanto esperava que Tito viesse com a notícia de como eles receberam a carta, não teve descanso em seu espírito até saber que o assunto estava resolvido. Portanto, ele deixou o trabalho e atravessou o Mar Egeu para a Macedônia para encontrar Tito, que estava subindo a costa com as notícias. Capítulo 7:6-7 nos diz que Tito encontrou Paulo na Macedônia com boas notícias que os coríntios haviam lamentado seus erros e acertado as coisas na assembleia.
Ao reiterar isso aos coríntios, Paulo mostrou a profundidade de sua preocupação por eles. Ele não era um homem duro e crítico como alguns deles imaginavam que fosse. Ao contrário, tinha tanto cuidado por eles que escolheu renunciar ao trabalho do evangelho para saber da resposta deles à sua primeira epístola! Suas preocupações pastorais prevaleceram sobre seu fervor evangelístico. Paulo tinha sido um ministro fiel ao apontar os erros deles, mas também era um ministro carinhoso e amoroso que tinha o bem deles em seu coração.
Isto nos ensina que as questões que pertencem à assembleia deveriam ter precedência aos serviços no evangelho. Aquilo que pertence à unidade da assembleia deve ser de extrema preocupação para nós. Muitos pensam que o serviço do evangelho é o serviço mais alto que podemos render a Deus, mas na realidade, sustentar e manter a verdade da Igreja que uma vez foi dada aos santos deveria ser nossa primeira preocupação (Jd 3). Infelizmente, alguns que sabem disso usam-no para dispensar completamente o trabalho do evangelho de suas atividades, mas isso é um desequilíbrio na direção oposta.
A essa altura, se os coríntios tivessem lido esta carta apropriadamente, teria ficado muito claro para eles que tinham tido uma impressão errada de Paulo – eles haviam mal entendido Paulo totalmente. Alguém entre eles havia insinuado que ele era um sujeito problemático que se envolveu em numerosos incidentes com as autoridades, mas ele mostrou que, realmente, Deus permitiu que se envolvesse nessas situações para proveito deles (cap. 1:3-11). Eles também o acusaram de inconstância em seus planos de ir a Corinto, mas ele mostrou que não tinha ido por causa de seu desejo de poupá-los de julgamento e não que fosse uma pessoa de duas palavras (cap. 1:12-24). Eles também insinuaram que era um homem duro e insensível, ordenando que o homem imoral no meio deles, fosse tirado da comunhão – até mesmo o chamando de pessoa iníqua, mas ele mostrou que foi por fidelidade ao Senhor que havia ordenado aquela ação contra o homem (cap. 2:1-13). Aprender da explanação de Paulo sobre essas questões os ajudaria muito a restaurar sua confiança nele como um verdadeiro ministro de Cristo.

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