domingo, 2 de setembro de 2018

2) É um Ministério Transformador


2) É um Ministério Transformador

Capítulo 3:1-18 – Outra grande característica que marca o verdadeiro ministério Cristão (do qual Paulo era o principal ministro) é que ele é eficaz – possui um poder transformador. Verdadeiro ministério Cristão não apenas exalta Cristo, mas também produz resultados nas vidas daqueles que o recebem. A existência da assembleia em Corinto provou isso. Os coríntios eram a prova viva do poder do ministério de Paulo no evangelho – eles tinham sido salvos por meio dele! Eles, mais do que todos, não podiam negar que Deus estava operando por meio de Paulo.
Vs. 1-2 – Sendo este o caso, Paulo lhes pergunta por que alguém entre os coríntios pensaria que ele e os que trabalhavam com ele precisavam ser “recomendados” a eles – a assembleia dos coríntios era sua recomendação! Ele diz, “Vós sois a nossa carta”. Ao mencionar “cartas de recomendação” Paulo estava dirigindo outra crítica aos seus difamadores. Eles estavam dizendo que ele não havia sido aprovado pelos apóstolos em Jerusalém e, portanto, não tinha autoridade para agir como agia. Eles se basearam no fato de que ele não tinha uma carta de recomendação. A Escritura indica que uma pessoa deve ter uma carta de recomendação se estiver indo a uma área onde ela não é conhecida (At 18:24-28; Rm 16:1-2), mas Paulo não precisava de uma carta em Corinto, tendo estado com eles durante um ano e meio (At 18:1-17). Ele não precisava recomendar a si mesmo “como alguns”, aludindo aos seus adversários que foram a Corinto com cartas recomendando a si próprios. Ele não precisava de tal certificado; todos os homens poderiam conhecer o caráter de seu trabalho apostólico tornando-se familiarizados com seus convertidos coríntios. Apesar de suas falhas, eles foram o fruto de uma genuína obra de Deus por meio de Paulo. Isso mostra que as melhores credenciais que um ministro Cristão pode ter são encontradas nas vidas daqueles a quem ele ministra; isso prova a qualidade de seu trabalho. Um homem pode ter um alfabeto de graduações após o seu nome, tendo se formado em algum respeitável seminário Cristão, mas isso em si mesmo não dará poder ao seu ministério.
Vs. 3-5 – Os coríntios eram uma “carta” em duas maneiras:

  • Eles eram uma recomendação do ministério de Paulo (vs. 1-2).
  • Eles eram também uma recomendação do Próprio Senhor para todos os homens (v. 3).


Este último é verdadeiro para todos os Cristãos; somos representantes de Cristo neste mundo. Nossas vidas deveriam recomendar Cristo a todos os homens. Nesse sentido, nós somos Sua carta ao mundo. Muitos Cristãos citam erroneamente o versículo 3, dizendo: “Cartas (plural) de Cristo”, mas Paulo estava falando dos coríntios coletivamente como sendo uma “carta de Cristo”. Isto é uma alusão ao fato de que o mundo deveria ver a companhia dos Cristãos movendo-se juntos como um todo, expressando o que verdadeiramente são – o um só corpo de Cristo.
Paulo continua falando sobre como o ministério Cristão transforma os crentes, tornando-os representantes de Cristo. Eles são feitos tais por meio de um trabalho interior nas “tábuas de carne do coração”. “O Espírito do Deus vivo” escreve Cristo no coração do crente, e isso aparece em uma manifestação de características semelhantes a Cristo no caminhar e nas maneiras do crente. Paulo acrescenta, “Não em tábuas de pedra”, o que é uma referência à Lei. Isto aponta para o fato de que tal obra não é realizada nas almas por meios legais.
Uma vez que o que Paulo disse de si mesmo poderia soar como autoelogio, ele lembrou aos coríntios de que ele e seus cooperadores não eram “competentes” (JND) em si mesmos. Eles não podiam levar o crédito pelo que o Senhor havia feito neles e por meio deles para a bênção dos santos; a “suficiência [competência] era toda “de Deus” (v. 5).
V. 6 – Paulo passa a chamar a si mesmo e aqueles que trabalharam com ele de “ministros dum novo testamento”. Rapidamente acrescenta, “não da letra, mas do espírito”, porque a “letra” da nova aliança será feita com Israel, e não com a Igreja. A “letra” da nova aliança é o cumprimento literal de suas condições em um dia vindouro, quando um remanescente de Israel é salvo e trazido para o reino (Jr 31:31-34; Rm 11:26-27). Aplicá-la em “letra” à Igreja seria vê-la sendo cumprida na Igreja de alguma forma, o que é um erro. Este é o erro da Teologia Reformada que imagina que as promessas a Israel no Velho Testamento estão sendo cumpridas hoje na Igreja em um sentido espiritual, vez que falam da Igreja como “Israel espiritual”. Paulo não fez isso com aquelas promessas do Velho Testamento; ele ministrou o “espírito” da nova aliança, que é graça. Ele ensinou aos Cristãos as bênçãos espirituais da aliança que era deles pela graça, sem que eles estivessem formalmente conectados a ela. Por isso, o evangelho que pregamos no Cristianismo não é a nova aliança, mas é da nova ordem da aliança, que é a graça.
As três grandes bênçãos espirituais da nova aliança são:
  • A possessão de vida divina (Hb 8:10).
  • Um relacionamento inteligente com o Senhor (Hb 8:11)
  • O conhecimento dos pecados perdoados (Hb 8:12).


Estas bênçãos da nova aliança são as menores das bênçãos espirituais que os Cristãos possuem. Mas elas não são exclusivamente Cristãs; Israel redimido e gentios convertidos no Milênio terão essas bênçãos também. Em Romanos, Colossenses e Efésios, Paulo revela a plenitude de nossas bênçãos Cristãs – cujo alcance é muito mais elevado em caráter e substância, e é dito que todas estão “em Cristo” à destra de Deus. Tais bênçãos são manifestamente Cristãs – apenas os Cristãos as têm. Ele então diz, “porque a letra mata”. Se ele (ou nós) aplicasse a nova aliança de acordo com a letra, destruiria o caráter celestial do chamamento Cristão, e destruiria a diferença entre Israel e a Igreja.
A primeira coisa que este grande ministério produz nos crentes é vida“mas o espírito dá vida” (KJV). À medida que a Palavra é ministrada, o Espírito de Deus trabalha nas almas para transmitir a vida divina, a qual tem a capacidade espiritual de conhecer e desfrutar coisas divinas. Mudança real e duradoura nas almas vai resultar apenas do seu prazer nas coisas divinas. Não é o que sabemos ou rituais ascéticos com que nos ocupamos que produz mudança moral em nossas vidas. Os homens tentaram todos os tipos de ferramentas externas para produzir mudança nas pessoas, mas todas falharam. Mas o caminho de Deus é começar por dentro – com os corações e almas dos homens – e trabalhar a partir daí.
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Vs. 7-16 – Paulo abre um parêntese para mostrar que o poder desse ministério de realizar coisas positivas nos crentes não é por meios legais. Para enfatizar isto, ele contrasta a Lei, a qual chama de “o ministério da morte” e “o ministério da condenação” com o ministério de graça da nova aliança, sobre a qual ele se refere na epístola sob três nomes. Cada um vê um aspecto diferente do poder e funcionamento deste ministério:

1)        “O ministério da justiça” (cap. 3:9) fala de uma obra consumada de redenção testemunhada no fato de que há um Homem glorificado no céu e que o crente tem n’Ele um lugar de aceitação diante de Deus. Assim, enfatiza o que Cristo fez para os crentes.

2)        “O ministério do Espírito” (cap. 3:8) refere-se ao efeito moral interior do ministério que produz semelhança de Cristo nos crentes. Isso tem a ver com o que o Espírito faz nos crentes

3)        “O ministério da reconciliação” (cap. 5:18) é o anúncio ao mundo do que a graça realizou para a glória de Deus e a bênção do homem. Tem a ver com o que Deus faz pelos crentes.

Vs. 9-11 – Os dois sistemas de lei e graça são contrastados; um é um sistema de exigência (a velha aliança), o outro é um sistema de provisão (a nova aliança). Paulo se concentra em um dos muitos contrastes entre os dois ministérios, nos dizendo que a ministração da morte e da condenação (a entrega da Lei) “veio em glória” (v. 7), enquanto a ministração do Espírito da justiça “subsiste” (JND) em uma “excelente glória” (vs. 8, 10). Não é que a antiga aliança fosse gloriosa, mas que o sistema (no Sinai) que a introduziu era glorioso. De fato, ambos os sistemas são gloriosos; mas um ofusca de tal forma a glória do outro que dificilmente podem ser comparados.
Vs. 12-13 – O caráter glorioso do ministério, que ao apóstolo foi confiado, foi tão grande que influenciou o modo de sua apresentação. Por isso, Paulo diz, “Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar”. Quando Moisés veio ao povo para ministrar o conteúdo e as exigências da antiga aliança, ele não podia usar ousadia. Ele colocou um véu sobre si porque a glória condenadora da Lei que refletia em seu rosto aterrorizava o povo. Isso significava que a Lei não era uma revelação completa de Deus. Assim, as pessoas sob aquela antiga aliança não poderiam olhar para o “fim” dela – que é o cumprimento dela em Cristo. Mas em contraste com Moisés, Paulo podia ministrar as bênçãos da nova aliança com ousadia, porque o que apresentava era baseado em uma obra realizada (na cruz), e assim ele tinha uma revelação mais completa da verdade em Cristo glorificado.
Vs. 14-16 – Até hoje, o mesmo véu permanece “não removido” (JND) quando os judeus se reúnem para ler as Escrituras do Velho Testamento em suas sinagogas. Aqueles sob aquela antiga aliança ainda não veem seu fim em Cristo. Mas não há razão para isso agora porque o “véu” “foi por Cristo abolido”. Existe agora uma revelação completa na face de Jesus no alto em glória. Se existe alguma dificuldade da parte de Israel agora, não é porque o véu está no rosto de Moisés (significando uma revelação parcial), mas porque está “sobre o coração deles” na incredulidade da revelação completa da verdade que o evangelho anuncia.
A lição prática que devemos obter com esse parêntese é que a formação do caráter de Cristo nos crentes não é por meios legais e esforços. Se pensarmos que podemos realizá-la estabelecendo um código de regras e regulamentos para nós mesmos mantermos, não teremos sucesso. Não teremos mais êxito do que Israel sob a Lei.

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Vs. 17-18 – Tendo contrastado os dois sistemas (lei e graça) num parêntese, Paulo retoma seu assunto de como o Espírito de Deus faz dos crentes a epístola de Cristo. Ele diz: “Ora o Senhor é o espírito; onde está o Espírito do Senhor, há liberdade” (Tradução W. Kelly; J. N. Darby, “Collected Writings”, vol. 26, pág. 322). A palavra “espírito” na primeira parte deste versículo não é o Espírito Santo (como KJV o interpreta), mas o espírito da antiga aliança. Todas as formas e cerimônias relacionadas com a antiga aliança prefiguravam a Cristo. Ele é o espírito, ou a substância espiritual e a essência daquelas coisas, pois todas apontavam para Ele. Isto é o que os judeus falharam em ver e ainda falham. Da mesma forma, Cristo é “o espírito de profecia” (Ap 19:10). Isto é, todas as Escrituras proféticas do Velho Testamento se relacionam a Ele, direta ou indiretamente.
O argumento de Paulo aqui é que o ministério não só comunica vida às almas pelo Espírito (v. 6), mas também dá ao crente liberdade na presença de Deus em oração e adoração (v. 17). Esta é a segunda grande coisa que o ministério da justiça faz. Nos fala de uma obra consumada de redenção e de nosso lugar de aceitação diante de Deus em Cristo, mas também quando recebida em fé, dá ao crente “liberdade” para vir pelo Espírito Santo à presença de Deus e olhar para o “rosto descoberto” do Senhor Jesus, o Mediador da nova aliança. O brilho da face de Moisés (o mediador da antiga aliança) era o reflexo do poder de condenação da Lei, o qual Israel não podia suportar. Portanto, ele cobriu o rosto. Mas que contraste de glória no ministério da justiça! Os Israelitas não podiam contemplar a glória evanescente da Lei, mas podemos contemplar o completo resplendor da excelente glória no rosto descoberto de Jesus!
Quando nos aproveitamos desse privilégio e passamos um tempo na presença de Deus observando “a glória do Senhor”, uma terceira coisa resulta: somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito”. Isso é chamado de “o ministério do Espírito” (v. 8). Quando o Espírito de Deus está livre para agir, Ele ocupa o crente com Cristo em glória; ao mesmo tempo, Ele faz Sua silenciosa obra de escrever Cristo nas tábuas de carne do coração. Quando Cristo é gravado nas afeições do crente, o caráter de Cristo aparece no caminhar e nas maneiras do crente. A Lei regulamentou a conduta exterior por meios legais, mas o ministério do Espírito produz uma obra interior, transformando o crente por dentro; isso resulta em uma mudança externa de caráter.
Paulo diz: “… na mesma imagem”. A imagem na Escritura tem a ideia de representação, que é o propósito da transformação de Deus – nos tornar verdadeiros representantes de Cristo neste mundo. Este processo é “de glória em glória”. Isto é, uma coisa gradual; a mudança ocorre um grau de glória por vez. Além disso, não é algo que é produzido pelo esforço pessoal, mas “pelo Espírito”. Portanto, o Senhor é o Objeto da nossa fé e o Espírito é o poder para nossa transformação.
Olhando para trás no capítulo (excluindo o parêntese nos versículos 7-16) vemos o trabalho eficaz e o poder glorioso do ministério da nova aliança. Três grandes coisas são produzidas nos santos pelo poder do Espírito, pelo Qual eles são feitos representantes adequados para Cristo neste mundo como Sua “epístola”. O Espírito de Deus trabalha no ministério para dar:

  • “Vida”, e assim, capacidade de conhecer e desfrutar as coisas divinas (v. 6).
  • “Liberdade” na presença de Deus (v. 17). O ministério da justiça que Paulo anunciou fala de um Homem no alto em glória, na presença de Deus, e isso nos dá a conhecer nossa aceitação n’Ele. Assim, temos liberdade para entrar na presença de Deus para contemplar a glória do Senhor.
  • “Transformação” de caráter (v. 18). Quando estamos ocupados com o Senhor em glória, o Espírito escreve Cristo em nossos corações e assim somos transformados em Sua imagem.


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