domingo, 2 de setembro de 2018

Um Vaso Quebrado


Um Vaso Quebrado

V. 7 – Para aumentar a manifestação da excelente glória de Cristo, Deus achou por bem colocar o tesouro de Cristo em “vasos de barro”. Isto se refere aos nossos corpos humanos. Os homens geralmente colocam seus caros tesouros em caixas dispendiosas, mas Deus coloca esse “tesouro” em frágeis vasos de barro. E por que Ele faria isso? Paulo explica, dizendo: “para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós”. Se Deus tivesse colocado este tesouro nos gloriosos anjos que se destacam em força, os homens seriam levados pela glória do vaso e não pelo tesouro. Para evitar a possibilidade de a atenção ser desviada da glória de Cristo, Deus sabiamente coloca o tesouro em vasos de barro. Então, nenhum poder que resulte em testemunho pode ser atribuído ao vaso. O resultado é que muita importância é dada a Cristo e nenhuma àqueles que carregam o tesouro. Se Deus tivesse trabalhado por meio de Paulo em um esplêndido corpo de glória, ele teria sido visto como uma espécie de super-homem, e o poder teria sido atribuído a ele.
Vs. 8-11 – Mesmo com frágeis vasos de barro (a fragilidade da humanidade), é preciso humilhar-se antes que o esplendor do tesouro resplandeça de maneira eficaz. Nestes versículos, Paulo fala do exercício de quebrar o vaso para que a glória de Cristo resplandecesse de maneira mais distinta e com poder. Este quebrar não vem de sentar-se em uma cadeira de balanço e ler os escritos de J. N. Darby, mas de ser colocado em circunstâncias difíceis e de provação. Paulo diz, “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados: perplexos, mas não desanimados; Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”. No seu caso e de seus cooperadores, era perseguição, mas as condições adversas que Deus usa também podem ser doenças, acidentes que ameacem a vida, problemas financeiros, problemas conjugais, problemas familiares, má vontade dos outros, etc. Essas coisas têm uma maneira de quebrar a força natural e a autoconfiança que apenas impedem o tesouro de brilhar por meio do vaso.
Observe como Paulo diz, ...mas não angustiados;... mas não desanimados;... mas não desamparados;... mas não destruídos”. Isso mostra que eles foram mantidos naquelas provações e aflições pelo poder divino. Era algo como a sarça ardente que Moisés viu; ela queimava, mas o fogo não a consumia (Êx 3:1-6). Assim, vemos a fragilidade humana de um lado e a capacitação divina do outro. A própria fraqueza do vaso se torna a oportunidade para Deus demonstrar a suprema grandeza de Seu poder que irradia do vaso.
Paulo diz que aquelas circunstâncias de provações onde eles foram “sobremaneira agravados” (cap. 1:8) os levou a ele e a seus cooperadores ao exercício de trazer “sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos”. Ou seja, eles procuraram imitar o espírito de submissão que o Senhor demonstrou em Sua vida, em Sua disposição para ser reduzido a nada. Nota: não é da morte de Jesus que Paulo está falando aqui, mas do morrer de Jesus. (A aplicação da morte de Cristo ao crente, desenvolvida em Romanos 6 e Colossenses 2, é uma linha de verdade diferente da que temos aqui. Ela tem a ver com uma aplicação experimental da morte de Cristo à carne no crente, pela qual ele se considera “como morto para o pecado” (Rm 6:11). Tampouco esse versículo se refere ao fato da morte do Senhor para fazer expiação pelos nossos pecados, mas ao contrário, é Sua disposição de ser reduzido a nada como um Mártir justo.
No versículo 10 a KJV diz “o Senhor Jesus”, mas deveria dizer “Jesus”. O Espírito de Deus está enfatizando a graça que estava em Sua vida como um homem na Terra, que Seu nome “Jesus” transmite. O ponto de Paulo nesta passagem é que as perseguições a que ele foi submetido foram uma ocasião para ele mostrar as graças da vida de Jesus. Seu exercício pessoal em relação a essas provações de perseguição foi que ele seria verdadeiramente um vaso quebrado nas mãos do Senhor, aceitando, submetendo-se e compartilhando Seus sofrimentos de martírio. Ele desejava que a mesma disposição de ser reduzido a nada, que foi vista em perfeição no Senhor, também fosse vista nele. Este foi um exercício voluntário de Paulo.
Deus usa essas circunstâncias adversas que entram em nossas vidas acima de nosso controle para nos exercitar sobre como imitar o espírito de submissão e abnegação que o Senhor tinha em Sua vida. O princípio é simples: quando há menos de nós no vaso, mais se verá de Cristo resplandecendo por meio do vaso. Com o obstáculo do “eu” fora do caminho, as pessoas verão “Jesus” em nós. O resultado é que a glória vai para Deus, e não para o vaso que foi usado para transmiti-la.
Há um tipo no Velho Testamento desta quebra na vida e serviço de Gideão (Jz 7:16-20). Em seu testemunho para o Senhor, ele e seus homens deviam ter “cântaros vazios, com tochas neles acesas” os quais eles seguraram à noite. Os cântaros nos quais as lâmpadas estavam acesas impediam o brilho da luz e, portanto, precisavam ser quebrados. Mas quando eles o foram, um poderoso testemunho foi dado diante de seus inimigos e uma grande vitória foi alcançada para o Senhor e Seu povo. Mas note, não foi Deus quem quebrou os cântaros de barro que os homens de Gideão seguravam; seus homens os quebraram. Isso mostra que os servos de Deus precisam ser exercitados sobre a quebra do vaso. Quando esse mesmo exercício de abnegação própria é confirmado em nós em experiência prática, a vida de “Jesus” também será “manifesta” em nós.
Enquanto Paulo procurava, por meio de exercício, imitar o espírito de Jesus em negar a si mesmo (v. 10), Deus também o entregava a situações onde era forçado a guardar a sentença de morte em si mesmo (v. 11). Ele diz: “E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus”. Isso era uma coisa involuntária, pois ninguém procura entrar voluntariamente nessas situações que ameaçam à vida. Deus permitiu que muitas coisas sobreviessem a Paulo – como o episódio em Éfeso, que ele descreveu no capítulo 1 como “tão grande morte” – e usou essas coisas para manifestar a vida de Jesus no corpo mortal de Paulo.
V. 12 – Assim, embora a “morte” tenha operado em sentido prático em Paulo e seus companheiros de trabalho, o grande resultado foi que a “vida” operou nos santos. Isto é, aquelas coisas celestiais que pertenciam à vida eterna foram para o bem dos santos, na medida em que eles se beneficiaram do ministério.
Portanto, a ideia de ser um vaso quebrado é não ter vontade própria em questões da vida e do serviço para o Senhor. O coração humano é naturalmente oposto à submissão e obediência. Entretanto, as provações e sofrimentos que encontramos no caminho são colocados ali por um Pai amoroso para quebrar nossas vontades, de modo que haja menos “eu” no vaso. Tudo é feito com vistas a que mais de Cristo brilhe a partir da vida do crente. O irmão Whitaker disse apropriadamente: “Deus nos esculpe a um tamanho utilizável”.
As várias tribulações pelas quais passamos são ordenadas por Deus para nos exercitar sobre certas coisas que possam estar em nossas vidas, as quais apenas impedem o fluir de Cristo. J. N. Darby disse, “Tribulação não pode em si mesma conferir graça, mas sob a mão de Deus, pode quebrar a vontade e detectar males ocultos e insuspeitados, de modo que, se julgados, a nova vida é mais plenamente desenvolvida e Deus tem um lugar maior no coração. Ela ensina humilde dependência; há mais desconfiança de si mesmo e da carne, e uma consciência de que o mundo não é nada, e o que é eternamente verdadeiro e divino tem um lugar maior na alma”.
Na inauguração de uma enorme estátua de um leão, perguntaram ao escultor como ele produziu uma obra de arte tão magnífica. Ele disse: “Eu apenas talhei tudo o que não parecia um leão!” Da mesma forma, Deus está desbastando nossos vasos humanos para que mais de Cristo seja visto. Muito do trato de Deus conosco em provações e aflições são, fundamentalmente, para ajudar o resplendor do “tesouro” que Ele colocou dentro de nós.
Existem duas coisas então; devemos ser exercitados sobre sermos reduzidos (v. 10), e Deus também está trabalhando para esse fim (v. 11).
Ao resumir esses exercícios que devem caracterizar um verdadeiro servo do Senhor, Paulo tocou em quatro coisas que impedem o fluir de Cristo de nossos vasos humanos. Eles são:

  • Falta de coragem (v. 1).
  • Desonestidade e engano (vs. 2-4).
  • Importância de si próprio (vs. 5-6).
  • Uma vontade não quebrada (vs. 7-11).


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