Um Vaso Quebrado
V. 7 – Para
aumentar a manifestação da excelente glória de Cristo, Deus achou por bem
colocar o tesouro de Cristo em “vasos de
barro”. Isto se refere aos nossos corpos humanos. Os homens geralmente
colocam seus caros tesouros em caixas dispendiosas, mas Deus coloca esse “tesouro” em frágeis vasos de barro. E
por que Ele faria isso? Paulo explica, dizendo: “para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós”. Se Deus
tivesse colocado este tesouro nos gloriosos anjos que se destacam em força, os
homens seriam levados pela glória do vaso e não pelo tesouro. Para evitar a
possibilidade de a atenção ser desviada da glória de Cristo, Deus sabiamente
coloca o tesouro em vasos de barro. Então, nenhum poder que resulte em
testemunho pode ser atribuído ao vaso. O resultado é que muita importância é
dada a Cristo e nenhuma àqueles que carregam o tesouro. Se Deus tivesse trabalhado
por meio de Paulo em um esplêndido corpo de glória, ele teria sido visto como
uma espécie de super-homem, e o poder teria sido atribuído a ele.
Vs.
8-11 – Mesmo com frágeis vasos de barro (a fragilidade da humanidade), é
preciso humilhar-se antes que o esplendor do tesouro resplandeça de maneira
eficaz. Nestes versículos, Paulo fala do exercício de quebrar o vaso para que a
glória de Cristo resplandecesse de maneira mais distinta e com poder. Este
quebrar não vem de sentar-se em uma cadeira de balanço e ler os escritos de J.
N. Darby, mas de ser colocado em circunstâncias difíceis e de provação. Paulo
diz, “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados: perplexos, mas não
desanimados; Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”.
No seu caso e de seus cooperadores, era perseguição, mas as condições adversas
que Deus usa também podem ser doenças, acidentes que ameacem a vida, problemas
financeiros, problemas conjugais, problemas familiares, má vontade dos outros,
etc. Essas coisas têm uma maneira de quebrar a força natural e a autoconfiança que
apenas impedem o tesouro de brilhar por meio do vaso.
Observe
como Paulo diz, “...mas não angustiados;... mas não desanimados;... mas não desamparados;... mas não destruídos”. Isso mostra que
eles foram mantidos naquelas provações e aflições pelo poder divino. Era algo
como a sarça ardente que Moisés viu; ela queimava, mas o fogo não a consumia (Êx
3:1-6). Assim, vemos a fragilidade humana
de um lado e a capacitação divina do
outro. A própria fraqueza do vaso se torna a oportunidade para Deus demonstrar
a suprema grandeza de Seu poder que irradia do vaso.
Paulo
diz que aquelas circunstâncias de provações onde eles foram “sobremaneira agravados” (cap. 1:8) os
levou a ele e a seus cooperadores ao exercício de trazer “sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo,
para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos”. Ou seja,
eles procuraram imitar o espírito de submissão que o Senhor demonstrou em Sua
vida, em Sua disposição para ser reduzido a nada. Nota: não é da morte de Jesus que Paulo está falando
aqui, mas do morrer de Jesus. (A
aplicação da morte de Cristo ao crente, desenvolvida em Romanos 6 e Colossenses
2, é uma linha de verdade diferente da que temos aqui. Ela tem a ver com uma
aplicação experimental da morte de Cristo à carne no crente, pela qual ele se
considera “como morto para o pecado”
(Rm 6:11). Tampouco esse versículo se refere ao fato da morte do Senhor para
fazer expiação pelos nossos pecados, mas ao contrário, é Sua disposição de ser
reduzido a nada como um Mártir justo.
No
versículo 10 a KJV diz “o Senhor Jesus”, mas deveria dizer “Jesus”. O Espírito de Deus está enfatizando a graça que estava em
Sua vida como um homem na Terra, que Seu nome “Jesus” transmite. O ponto de
Paulo nesta passagem é que as perseguições a que ele foi submetido foram uma
ocasião para ele mostrar as graças da vida de Jesus. Seu exercício pessoal em
relação a essas provações de perseguição foi que ele seria verdadeiramente um
vaso quebrado nas mãos do Senhor, aceitando, submetendo-se e compartilhando
Seus sofrimentos de martírio. Ele desejava que a mesma disposição de ser
reduzido a nada, que foi vista em perfeição no Senhor, também fosse vista nele.
Este foi um exercício voluntário de
Paulo.
Deus
usa essas circunstâncias adversas que entram em nossas vidas acima de nosso
controle para nos exercitar sobre como imitar o espírito de submissão e
abnegação que o Senhor tinha em Sua vida. O princípio é simples: quando há
menos de nós no vaso, mais se verá de Cristo resplandecendo por meio do vaso.
Com o obstáculo do “eu” fora do caminho, as pessoas verão “Jesus” em nós. O resultado é que a glória vai para Deus, e não
para o vaso que foi usado para transmiti-la.
Há
um tipo no Velho Testamento desta quebra na vida e serviço de Gideão (Jz 7:16-20).
Em seu testemunho para o Senhor, ele e seus homens deviam ter “cântaros vazios, com tochas neles acesas”
os quais eles seguraram à noite. Os cântaros nos quais as lâmpadas estavam
acesas impediam o brilho da luz e, portanto, precisavam ser quebrados. Mas
quando eles o foram, um poderoso testemunho foi dado diante de seus inimigos e
uma grande vitória foi alcançada para o Senhor e Seu povo. Mas note, não foi
Deus quem quebrou os cântaros de barro que os homens de Gideão seguravam; seus
homens os quebraram. Isso mostra que os servos de Deus precisam ser exercitados
sobre a quebra do vaso. Quando esse mesmo exercício de abnegação própria é
confirmado em nós em experiência prática, a vida de “Jesus” também será “manifesta”
em nós.
Enquanto
Paulo procurava, por meio de exercício, imitar o espírito de Jesus em negar a
si mesmo (v. 10), Deus também o entregava a situações onde era forçado a
guardar a sentença de morte em si mesmo (v. 11). Ele diz: “E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de
Jesus”. Isso era uma coisa
involuntária, pois ninguém procura entrar voluntariamente nessas situações
que ameaçam à vida. Deus permitiu que muitas coisas sobreviessem a Paulo – como
o episódio em Éfeso, que ele descreveu no capítulo 1 como “tão grande morte” – e usou essas coisas para manifestar a vida de
Jesus no corpo mortal de Paulo.
V.
12 – Assim, embora a “morte” tenha
operado em sentido prático em Paulo e seus companheiros de trabalho, o grande
resultado foi que a “vida” operou
nos santos. Isto é, aquelas coisas celestiais que pertenciam à vida eterna
foram para o bem dos santos, na medida em que eles se beneficiaram do
ministério.
Portanto,
a ideia de ser um vaso quebrado é não ter vontade própria em questões da vida e
do serviço para o Senhor. O coração humano é naturalmente oposto à submissão e
obediência. Entretanto, as provações e sofrimentos que encontramos no caminho
são colocados ali por um Pai amoroso para quebrar nossas vontades, de modo que
haja menos “eu” no vaso. Tudo é feito
com vistas a que mais de Cristo
brilhe a partir da vida do crente. O irmão Whitaker disse apropriadamente: “Deus
nos esculpe a um tamanho utilizável”.
As
várias tribulações pelas quais passamos são ordenadas por Deus para nos
exercitar sobre certas coisas que possam estar em nossas vidas, as quais apenas
impedem o fluir de Cristo. J. N. Darby disse, “Tribulação não pode em si mesma
conferir graça, mas sob a mão de Deus, pode quebrar a vontade e detectar males
ocultos e insuspeitados, de modo que, se julgados, a nova vida é mais
plenamente desenvolvida e Deus tem um lugar maior no coração. Ela ensina humilde
dependência; há mais desconfiança de si mesmo e da carne, e uma consciência de
que o mundo não é nada, e o que é eternamente verdadeiro e divino tem um lugar
maior na alma”.
Na
inauguração de uma enorme estátua de um leão, perguntaram ao escultor como ele
produziu uma obra de arte tão magnífica. Ele disse: “Eu apenas talhei tudo o
que não parecia um leão!” Da mesma forma, Deus está desbastando nossos vasos
humanos para que mais de Cristo seja visto. Muito do trato de Deus conosco em
provações e aflições são, fundamentalmente, para ajudar o resplendor do “tesouro” que Ele colocou dentro de
nós.
Existem
duas coisas então; devemos ser exercitados sobre sermos reduzidos (v. 10), e
Deus também está trabalhando para esse fim (v. 11).
Ao
resumir esses exercícios que devem caracterizar um verdadeiro servo do Senhor,
Paulo tocou em quatro coisas que
impedem o fluir de Cristo de nossos vasos humanos. Eles são:
- Falta de coragem (v. 1).
- Desonestidade e engano (vs. 2-4).
- Importância de si próprio (vs. 5-6).
- Uma vontade não quebrada (vs. 7-11).
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