Um Apóstolo de Cristo Sofre pela Verdade que ele Leva
Capítulo
11:16-33 – Outra coisa que caracteriza um verdadeiro apóstolo de Cristo é que ele paga um preço por levar a verdade
sofrendo perseguição. Os historiadores bíblicos registraram que todo
apóstolo do Senhor Jesus Cristo sofreu o martírio, exceto João – embora tenham
tentado matá-lo.
Vs.
16-20 – De forma a introduzir esta próxima marca de um apóstolo, Paulo
novamente expressa sua relutância em falar de si mesmo, mas sentiu que era
necessário para expor corretamente esses falsos obreiros. Ao dizer essas coisas
sobre si mesmo, ele confiou que “ninguém” o julgaria “insensato”. Mas se os coríntios o
vissem como tal, eles deveriam estar felizes em recebê-lo “como insensato”. Paulo diz: “de
boa mente tolerais os insensatos” – uma alusão ao fato de permitirem que
esses charlatões estivessem entre eles e até mesmo os apoiasse. Na essência,
Paulo estava dizendo: “Eu sei que é tolice alguém gloriar-se de si mesmo, mas
desde que vocês permitem uma boa parte daqueles que se exaltam a si mesmos e vos
devoram e vos fazem cativos – se pensam que estou me gloriando, tenho certeza
que vão me perdoar por dedicar-me a isso na tentativa de explicar”. Se eles
estavam dispostos a tolerar os professores judaizantes entre eles, então
deveriam dar a Paulo algum espaço para fazê-lo sem críticas. Assim, ele usou um
toque de ironia aqui.
Vs. 21-22 – Paulo então se volta para falar do assunto de sofrer “reprovação” (KJV). Não tendo
verdadeiras credenciais do Senhor, esses falsos obreiros estavam indicando
falsas credenciais que de modo algum provavam que eram verdadeiros apóstolos.
Eles não podiam usar sua herança e outras coisas naturais para provar que eram
apóstolos e Paulo não, porque ele tinha essas credenciais também. Se apontassem
para o discurso “ousado” deles,
Paulo poderia fazer o mesmo. Se apontassem para a descendência deles dos “Hebreus” (orgulho de raça), Paulo
também poderia. Se alegassem que eram “Israelitas”
(os privilégios peculiares daquela nação), Paulo também poderia. Se fossem suas
conexões familiares com “Abraão”
(suas promessas especiais de bênção), Paulo também poderia reivindicar isso (v.
22). Mas essas coisas de maneira alguma provam que uma pessoa é apóstolo de
Cristo.
Vs. 23-27 – Paulo prossegue mostrando que se eles ousassem alegar
que eram verdadeiros “ministros de
Cristo”, então deveriam ter sua participação dos sofrimentos de Cristo,
como ele teve. Paulo e os outros apóstolos traziam as marcas dos sofrimentos de
Cristo em seus corpos. Ele fala disso em Gl 6:17, dizendo: “trago
no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”. Se alguém questionasse o apostolado de Paulo,
tudo o que eles tinham de fazer era olhar para aquelas marcas – elas atestam o
fato de que era um verdadeiro apóstolo. Mas isso estava faltando a esses falsos
mestres; não há evidência de que sofreram por Cristo. O apóstolo João diz que
uma grande indicação reveladora de falsos profetas é que “o mundo os ouve” (1 Jo 4:5). Eles são aceitos pelo mundo porque
falam coisas que o mundo entende. Assim, o mundo não lança sua reprovação sobre
eles. Esta é uma evidência convincente de que eram falsos esses supostos
ministros de Cristo.
Paulo toma a liberdade de continuar um pouco sobre o assunto de
sofrimento para mostrar o que deve suportar um apóstolo de Cristo, pelo amor de
Seu nome. O Senhor disse de Paulo: “E Eu
lhe mostrarei quanto deve padecer pelo Meu nome” (At 9:16). Isto foi
certamente cumprido em sua vida como um apóstolo. É Paulo como que dizendo: “Vocês
me forçaram a
gloriar-me em mim mesmo; mas não vou falar de coisas pelas quais as pessoas me
invejassem; Eu falarei daquilo que ninguém desejaria – meus sofrimentos por
Cristo no evangelho”. Ele então se lança na prova mais convincente de ser um
apóstolo. Ele coloca diante de nós um registro comovente de seus sofrimentos
por Cristo, listando umas 25 coisas – muitas das quais aconteceram com ele
várias vezes. Em todas as coisas que Paulo menciona, ele não traz os muitos
sinais e maravilhas que foram feitos por meio dele. Tais coisas apenas
intrigariam e fascinariam nossas mentes e nos ocuparia com o servo. Em vez
disso, ele nos apresenta incidentes de seu sofrimento e indignidade.
Lembremo-nos, também, que o registro dos sofrimentos de Paulo por Cristo não
estava completo no momento em que escreveu esta carta. Os sofrimentos que ele
suportou nos últimos capítulos de Atos não seriam incluídos nisto, porque eles
ainda não haviam ocorrido (por exemplo, At 20:23, 23:2, 12, 27:41-44).
Não entraremos em cada um desses sofrimentos, exceto para explicar
o que ele quis dizer quando disse: “em
perigo de morte muitas vezes”. Isso não significa que Paulo tenha morrido
muitas vezes, mas ele arriscou sua vida com frequência em circunstâncias de ameaça
de morte (1 Co 15:31, 2 Co 1:8-9, 4:11). Em todos esses terríveis sofrimentos,
não há menção dele pedindo a empatia e as orações dos santos – eles
provavelmente sabiam pouco ou nada deles. De fato, se não fosse por esses
mestres malignos que se infiltraram na assembleia em Corinto, e os coríntios
obrigando, então, a Paulo a falar de si mesmo, nunca teríamos sabido dessas
experiências; o livro dos Atos não registra essas coisas. J. N. Darby disse: “Estas
poucas linhas esboçam a imagem de uma vida de tão absoluta devoção que toca o
coração mais frio; faz-nos sentir todo o nosso egoísmo e dobrar o joelho diante
d’Ele, que era a Fonte viva da devoção do abençoado apóstolo, diante daqu’Ele
cuja glória o inspirou”.
Vemos neste resumo dos sofrimentos de Paulo por Cristo uma prova
notável de seu apostolado. Mesmo que seus opositores não o vissem como um
verdadeiro apóstolo, é óbvio que Satanás via! Se ele fosse apenas um autônomo
que não estivesse fazendo nada para construir a Igreja de Deus, Satanás não
teria se preocupado com ele. Mas esse não foi o caso; Satanás lançou todas as
perseguições concebíveis contra Paulo para impedi-lo em seu serviço ao Senhor. Não
é esta uma prova notável de seu apostolado? Todo verdadeiro servo Cristão
sofrerá perseguição se for fiel (2 Tm 3:12), mas é improvável que ela alcance
essas proporções apostólicas. E o que esses falsos apóstolos poderiam trazer a
esse respeito para provar que eles eram apóstolos de Cristo? Não há sequer
registro de que eles sofreram por Cristo!
Vs. 28-31 – Talvez o mais difícil de todos os fardos de Paulo fosse
seu “o cuidado de todas as igrejas [assembleias]”. O Sr. F. B. Hole disse: “Para suportar a fraqueza dos fracos,
ouvir uma e outra vez as queixas dos ofendidos, corrigir a tolice dos santos e
lutar pela verdade contra os falsos irmãos, tudo isso deve ter sido a maior
prova de todas. No entanto, ele o fez.” Apenas pelo fato do quão profundamente
Paulo estava preocupado com os santos, já o distinguia de todos os falsos
obreiros. Ele verdadeiramente cuidou do bem estar de cada assembleia e deu a
vida por elas. Não temos registro de que os falsos mestres de Corinto se
importassem tanto com o rebanho de Deus.
Vs.
32-33 – Paulo, então, nos fala de como por um triz escapou em Damasco, sendo
descido por seus irmãos “num cesto por
uma janela” de sobre a muralha da cidade. Este é o primeiro
sofrimento registrado de perseguição que Paulo experimentou (At 9:25). Parece
bastante inofensivo e banal quando contrastado com os sofrimentos dramáticos de
que vinha falando anteriormente. É um tanto decepcionante, mas serve para
ilustrar o ponto de Paulo em não se gloriar de si mesmo. Ele marchou para
Damasco com grande pompa e orgulho como um distinto representante do supremo conselho
judaico, e saiu fugindo na escuridão como um ladrão caçado. Poderia alguma
coisa ser mais humilhante? E por que isso aconteceu? Porque Cristo Se tornou o
Objeto de sua vida e a Pessoa que ele agora servia. O leão foi transformado em
cordeiro por meio do poder transformador da graça de Deus. Em sua fuga, o
Senhor não lhe deu nenhum favor especial – nenhum milagre foi realizado para
ele. Foi uma experiência inglória, para dizer o mínimo. Qualquer um que se
gloriasse em si mesmo não mencionaria essa experiência humilhante. A narração
indica humildade apostólica.
Aqui está uma lição prática para todos os que ministram a Palavra.
Se fizermos uma referência pessoal no ministério, é melhor falar de algo que
não traz glória a nós mesmos. Mencionar algo que nos deprecia, em vez de nos
colocar em uma luz favorável, é a maneira discreta do apóstolo e o exemplo para
nós.
É interessante que o Senhor usou os irmãos de Paulo para descê-lo, e esse foi o meio dele
ser preservado. Nossos irmãos, que nos conhecem melhor, têm um modo de
nos manter humildes, em situações que, de outra forma, ficaríamos inchados. Pode ser uma ou duas palavras dadas a nós, ou alguma ação
em nossa direção. Paulo pôde agradecer ao Senhor por ter irmãos em Damasco que
fizeram isso por ele. Quando nossos irmãos agem nessa função conosco,
geralmente não apreciamos, mas quando refletimos sobre isso mais tarde,
frequentemente percebemos que o Senhor estava nisso para nossa preservação.
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