1) A Certeza da Sublime Condição de Glória Guardada no Céu
para Nós, Nos Compele a Viver Agora por Essas Coisas
Eternas
Vs. 1-9 – No
capítulo 4, Paulo estava falando de coisas eternas e da possibilidade de perder
sua vida como mártir de Cristo. Neste capítulo prossegue, dizendo que, se tal
coisa tivesse de acontecer, ele tinha a garantia de que um dia seria
glorificado em um corpo completamente transformado, que não seria afetado por
doença, decadência e morte. Ele tinha certeza disso porque recebera uma
revelação da verdade sobre essas coisas. Portanto, poderia dizer com segurança:
“Porque sabemos que, se a nossa casa
terrestre deste tabernáculo se
desfizer, temos de Deus um
edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. Paulo sabia que
se morresse em batalha (martírio), haveria uma magnífica condição de glória
esperando por ele. Isso o encorajou a lançar sua energia no ministério.
Há
duas pequenas expressões que Paulo usa no versículo 1 que aparecem muitas vezes
em suas epístolas. São elas: “nós
sabemos” e “nós temos”. Estas
expressões denotam conhecimento Cristão e possessão Cristã, os quais
caracterizam Cristianismo. “Nós sabemos”
não é o conhecimento da experiência, ou o conhecimento da instrução, mas o
conhecimento adquirido por revelação divina. Os apóstolos receberam revelações
pelas quais o conjunto do conhecimento Cristão foi dado à Igreja (1 Co
2:10-16). “Nós temos” refere-se à
porção especial (bênçãos) que pertence a todos os Cristãos por meio da obra
consumada de Cristo e da presença interior do Espírito de Deus. Quão gratos
devemos ser em saber o que sabemos e ter o que temos!
Paulo
falou anteriormente da transformação moral
que Deus atualmente está operando em nós (cap. 3:18), mas aqui ele fala de
uma transformação física que ocorrerá
quando o Senhor vier para nós (cap.
5:1). Usando a figura de uma “casa”,
Paulo contrasta a condição de nossos corpos agora com o que eles serão num dia
vindouro. Ele chama nossos corpos em sua condição atual de um “tabernáculo”, que é uma tenda (uma
habitação portátil), porque eles são um alojamento temporário da alma e do espírito. Então, ele fala de nossos corpos
quando eles serão glorificados como “um
edifício de Deus, uma casa não feita por mãos, eterna nos céus”. Isso
significa seu caráter permanente no
estado glorificado. O contraste é óbvio; uma tenda deve ser removida em algum
momento, mas uma casa é permanente.
Paulo
havia dito aos coríntios em sua primeira epístola que essa mudança surpreendente
para o estado glorificado ocorreria “num
piscar de um olho” (JND) na vinda do Senhor – o Arrebatamento (1 Co 15:23,
51-57). “Não feita por mãos”
significa simplesmente “não desta
criação” (Hb 9:11). “Nos céus”
não significa que Deus já fez nossos corpos glorificados e que eles estão
sentados lá no céu desocupados, nos esperando chegar lá, mas sim que o céu é
nosso destino, e o estado glorificado é de uma ordem e caráter celestial.
É
interessante que a Escritura não diz que recebemos “novos” corpos, embora os
Cristãos frequentemente falem isso. Mas os nossos corpos mortais é que são “transformados” para um estado
glorificado (1 Co 15:51-52; Fp 3:21; Jó 14:14). Este estado glorificado é uma
condição completamente nova, mas não
é o recebimento de outro (ou novo) corpo. Dizer que um crente que morre (cujo
corpo é enterrado) recebe um novo ou outro corpo quando o Senhor vier, nega a
ressurreição. A Escritura indica que os próprios corpos em que vivemos, nos
movemos e tivemos nosso ser, serão ressuscitados – embora que em uma condição
inteiramente nova de glória. Por isso, temos a certeza da glorificação de nossos corpos, mas não necessariamente a dissolução de nossos corpos, porque “nem todos dormiremos” (1 Co 15:51).
Alguns crentes estarão “vivos” na
vinda do Senhor e serão “arrebatados”
junto com aqueles que serão ressuscitados dentre os mortos naquele momento (1
Ts 4:16-17).
A
compreensão da sublime condição de glória, guardada no céu para nós, motivou
Paulo a viver para o Senhor e O servir com fervor. Ele disse: “E por isso também gememos, desejando ser
revestidos da nossa habitação, que é do céu”. Nós “gememos” nesses corpos mortais porque eles estão sofrendo dos
efeitos do pecado na criação. As dores e mágoas que experimentamos em nossos
corpos nos lembram constantemente de que ainda não estamos em casa. O Senhor
deseja que tais experiências tenham o efeito de diminuir nosso apego às coisas
daqui e de voltar nossos espíritos em direção a nosso lar. Por isso, nesses
capítulos, Paulo toca em duas coisas que produzem o correto desejo de ser “revestido” com nossos corpos
glorificados: as coisas que são “eternas”
que contemplamos pela fé (cap. 4:18), e os gemidos que experimentamos em nossos
corpos mortais (cap. 5:2, 4).
O gemido aqui
não é porque os desejos da carne não podem ser satisfeitos, nem porque temos
algum medo ou incerteza de sermos aceitos diante de Deus em Cristo, mas porque
a nova vida anseia pelo estado final (glorificado). O corpo em seu estado
presente tende a entristecer a nova vida, e isso pode de algum modo impedir a
alma de desfrutar da glória que a nova vida vê e deseja. Embora não seja errado
gemer nesses corpos, é errado murmurar. Não há lugar para reclamação
no Cristianismo (Fp 2:14; Jd 16).
Vs. 3-4 – Já
que seremos “vestidos” com corpos
glorificados, temos a bendita certeza de que não seremos encontrados “nus”. Nus é um termo que Paulo usa
para denotar o estado de uma pessoa que está eternamente perdida sem uma
cobertura para seu pecado.
Paulo
acrescenta que não procuramos estar “despidos”,
mas sim “revestidos”. Despido é
outro termo que usa para descrever a alma e o espírito do crente no estado de
morte desencarnado (intermediário). Não ansiamos por isso porque a morte não é
nossa esperança. A postura Cristã apropriada é esperar o Senhor vir e nos
transformar em seres glorificados. Estamos esperando Cristo para “vivificar” nossos “corpos mortais”, não para ressuscitar nossos corpos mortos (Rm
8:11). Daí vem o gracejo frequentemente usado: “Estamos esperando pelo Agente
celestial, não por um agente funerário”.
Vs. 4-5 – Neste
ínterim, enquanto esperamos que o “mortal”
seja “absorvido pela vida”, Deus nos
deu “o penhor do Espírito”. Isso se
refere ao Espírito de Deus habitando em nossos corpos como uma promessa de que
Deus vai completar o que Ele já começou. O processo de transformação começou em
nossas almas e espíritos (cap. 3:18), mas naquele dia nossos corpos também
serão transformados. O Espírito de Deus habita em nós, não apenas para nos dar
a garantia de alcançarmos o estado glorificado, mas também para nos dar um gozo
presente das coisas futuras. Assim, Ele nos dá uma amostra das coisas
celestiais em que iremos viver por toda a eternidade, enquanto ainda estamos aqui
na Terra.
Vs. 6-8 – Esse
entendimento proporcionou a Paulo estar “sempre
de bom ânimo” em servir ao Senhor. A KJV diz: “Em casa no corpo...”,
mas deveria ser traduzido como “presente
no corpo”. Viver em nossos corpos mortais em seu estado atual não é lar
para o crente; como já mencionado, é um estado temporário. Somos estrangeiros e
peregrinos neste mundo, e nossos corpos são apenas um tabernáculo (tenda);
ainda não estamos em casa. Nem a Escritura chama de lar o estado intermediário
de almas e espíritos desencarnados com Cristo. Costumamos dizer: “Fulano de tal
foi para casa para estar com o Senhor”. Entendemos o que quer dizer, mas a
Escritura não chama este estado de casa bem aventurada. Lar, para o crente, é o
estado final quando ele estiver glorificado. Aqueles no estado desencarnado
estão esperando por aquele dia, como nós estamos – mas eles estão em uma “sala
de espera” mais brilhante, por assim dizer. Quando o Senhor vier, todos nós
iremos juntos para a casa do Pai (Jo 14:2-3).
Em um pequeno
parêntese (v. 7), Paulo diz: “Porque
andamos por fé, e não por vista”. Isso significa simplesmente que ele
estava vivendo para as coisas eternas agora. É necessário primeiro ver as
coisas eternas pela fé (cap. 4:18) antes que se possa andar nelas pela fé.
Embora “partir e estar com Cristo” (Fp 1:23)
por meio da morte não seja a esperança do Cristão, é uma opção. Se Deus escolhe
isso para nós, deveríamos “desejar antes
deixar este corpo”, pois então iríamos
“habitar com o Senhor” no estado desencarnado. E sabemos que isso é “muito melhor” do que estar agora em
nossos corpos mortais (Fp 1:23).
V. 9 – O efeito
prático de tudo isso é que Paulo trabalhou (esforçou-se) para ser aceitável ou
agradável para Ele que o chamou para o serviço. Novamente, a KJV traduz “aceitos
por Ele”. Isto não é muito correto, porque as Escrituras dizem que somos “aceitos no Amado” (Ef 1:6 – KJV). Não
labutamos para ser aceitos porque já fomos aceitos. A interpretação correta
deveria ser “agradável [ou aceitável] a Ele”. Seu ponto é que ele trabalhou para ser agradável ou
prazeroso ao Senhor, e a condição vindoura de glória o motivou para esse fim.
Isso age como uma transição adequada para o próximo ponto de Paulo sobre o
tribunal de Cristo.
Nesta passagem,
Paulo falou de três condições do
crente e uma condição dos incrédulos. A primeira é nossa vida atual na Terra em
nossos corpos mortais – “presentes no
corpo”. O segundo é o estado desencarnado, quando a alma e o espírito
partem para estar com Cristo – “despidos”.
A terceira é a consumação de nossa salvação quando nossos corpos serão
glorificados na vinda do Senhor (o Arrebatamento) – “vestidos”. O primeiro estado é bom
(se for vivido em comunhão com Deus), o segundo é melhor, mas o terceiro é o
melhor. A quarta condição que ele menciona (“nu”) pertence puramente ao incrédulo.
Um resumo
desses termos é o seguinte:
- “Presente no corpo” – vida vivida na Terra em nossa condição atual.
- “Despido” – a alma e o espírito do crente desencarnado no estado intermediário de felicidade.
- “Vestido” – o crente glorificado em um estado inteiramente novo.
- “Nu” – uma pessoa perdida eternamente sem cobertura para o pecado.
Assim,
a antecipação da condição vindoura de glória guardada no céu para todos os
redimidos compeliu Paulo a viver para
as coisas eternas enquanto esteve aqui neste mundo. Isso fará o mesmo em todo
Cristão de mente sensata. O fato de não estarmos neste mundo para ficar e de
não podermos guardar as coisas temporais que vemos ao nosso redor, deveria nos
motivar a viver para as coisas eternas. O processo de decadência nesses corpos
mortais já começou, e deveria nos lembrar de que não vamos ficar aqui para
sempre – especialmente quando as dores e mágoas aumentam com a idade. Nós não
temos muito tempo para viver neste mundo e deveríamos orar, como Moisés fez: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal
maneira que alcancemos corações sábios” (Sl 90:12). Sabedoria deveria nos
dirigir a vivermos para as coisas eternas agora.
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