segunda-feira, 3 de setembro de 2018

1) Sua Afeição Genuína por Eles


1) Sua Afeição Genuína por Eles

Capítulo 6:11-13 – Paulo diz, “Ó coríntios, a nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado. Não estais estreitados em nós; mas estais estreitados nos vossos próprios afetos. Ora, em recompensa disto (falo como a filhos), dilatai-vos também vós”. Sua boca sendo aberta para os coríntios se refere ao fato de que ele havia lhes revelado francamente as fontes secretas de suas ações no serviço ao Senhor. Ele não reteve nada ao expor seus desejos e seus motivos diante deles. Seu coração estava verdadeiramente “dilatado” aos coríntios; ele verdadeiramente os amava, e isso o levou a abrir a sua boca em sinceridade para com eles (Mt 12:34). Ele sinceramente lhes roga que respondam de maneira recíproca e que deixem seus sentimentos virem sobre ele. Ele disse: “dilatai-vos também vós”. Qualquer restrição de afeto entre os coríntios e Paulo não era da parte dele; ele não estava retendo seu afeto por eles. O obstáculo era obviamente da parte deles.
Capítulo 6:14-16 – Uma vez que havia um óbvio obstáculo no fluir das afeições deles, Paulo aproveita para resolver isso. Ele relaciona as afeições limitadas deles aos jugos desiguais que haviam formado com o mundo. Eles tinham sido descuidados em suas associações e isso teve o efeito de diminuir suas afeições para com o Senhor e Seu povo. Aqui reside o perigo do jugo desigual.
Um jugo desigual é qualquer coisa que ligue o crente a um incrédulo em um propósito comum – seja social, comercial, religioso, marital ou político. Tais falsos elos minam a comunhão Cristã e têm uma maneira de diminuir nossas afeições para com o Senhor e nossos irmãos. Nós não somos “do mundo” porque somos homens celestiais por meio do chamado do evangelho. No entanto, temos que viver “no mundo” (Jo 17:11-15), mesmo assim, não precisamos nos prender a um jugo desigual com o mundo. Temos de fazer nossos negócios no mundo e, assim, entramos em contato com ele, mas não precisamos nos envolver pessoalmente com ele. Influências negativas do mundo não resultam do contato, mas da cumplicidade com ele. Era a cumplicidade o problema dos coríntios. Portanto, o remédio de Paulo para suas limitações afetivas era: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis”.
Nestes versículos (14-16), Paulo faz cinco perguntas retóricas destinadas a mostrar quão desnaturais, incompatíveis e inseguras são as alianças com o mundo. Cada uma toca em um diferente terreno de incompatibilidade em relação aos crentes e incrédulos. 
  • “Justiça com injustiça” – a esfera do comportamento moral.
  • “Luz com trevas” – a esfera do conhecimento espiritual.
  • “Cristo e Belial” – a esfera da autoridade espiritual.
  • “Fiel com o infiel” – a esfera da fé.
  • “O templo de Deus com ídolos” – a esfera da adoração.


As cinco palavras que Paulo usa – “sociedade”, “comunhão”, “concórdia”, “parte” e “consenso” – devem ser cuidadosamente observadas. Tais palavras implicam cumplicidade com o mundo. Alguns gostariam de ignorar a exortação de Paulo relegando-a ao vínculo matrimonial, tornando-a nada mais que isso, mas suas observações a respeito do jugo desigual vão muito além dos casamentos com incrédulos. Um jugo desigual pode ser um elo social com os incrédulos em jogos, clubes, associações, fraternidades, etc. (Tg 4:4; 1 Jo 2:15). Ou, poderia ser uma parceria comercial com incrédulos (Dt 22:10; 2 Cr 20:35-37; Pv 6:1-5). Ou, poderia ser uma ligação eclesiástica com uma seita no Cristianismo, onde os incrédulos são autorizados a participar nos serviços de comunhão (1 Co 11:19). Ou poderia ser um laço matrimonial (Dt 7:3-4; Js 23:12-13; 1 Co 7:39). Um Cristão não deve se casar com um incrédulo, mas se um crente está casado com um, esta passagem não justifica o divórcio (1 Co 7:12-16). Ou, o jugo desigual poderia ser um elo político com os incrédulos, unindo-se aos seus empenhos políticos (2 Cr 18:1-34, 25:5-10; Is 45:9). O ponto aqui é que existem duas grandes esferas opostas de ação moral e espiritual que não podem seguir juntas na vida de um Cristão sem sérias ramificações práticas.
Capítulo 6:17-18 – Para encorajar os coríntios a se separarem dos vínculos ímpios com o mundo, Paulo cita o Próprio Senhor, dizendo: Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei. Esta afirmação no grego original está no tempo aoristo[1], significando que deveria ser uma coisa de uma vez por todas na vida de um crente.
Portanto, os coríntios precisavam não apenas mudar sua atitude em relação a Paulo (vs. 11-13), mas também em relação ao mundo (vs. 14-16). Eles precisavam abrir seus corações para Paulo e fechar seus corações para o mundo. Todos nós precisamos tratar o mundo como ele realmente é – um inimigo de nossas almas. A alma do Cristão é sempre atraída de volta ao mundo, assim como Israel foi constantemente tentado a voltar-se para a idolatria. Existem algumas razões muito importantes pelas quais a separação é necessária na vida de um Cristão. Sem ela: 
  • Nossa santidade pessoal será comprometida pelas impurezas do mundo (2 Co 6:17).
  • Nossa comunhão com o Senhor será seriamente ameaçada, se não totalmente perdida (Jo 14:21-23).
  • Nossos corações serão afastados do Senhor (Dt 7:2-4).
  • Nossos padrões morais se corromperão (1 Co 15:33).
  • Nosso crescimento espiritual será impedido (Os 7:8).
  • Nossa energia espiritual e discernimento ficarão enfraquecidos (Os 7:9).
  • Nosso testemunho pessoal terá pouco poder perante os outros (Gn 19:14).


Separação das pessoas e coisas mundanas não significa que o crente acabe andando sozinho. O Senhor faz uma promessa tripla de nos compensar com Sua companhia pessoal; é-nos dado um senso especial de Sua presença.
Ele diz: 
  • “Eu vos receberei”.
  • “Eu serei para vós Pai”.
  • “E vós sereis para Mim filhos e filhas”.


Esta é uma recompensa maravilhosa prometida àqueles que andam em separação – o Senhor promete ser o nosso Amigo mais próximo e mais querido! Isso nos lembra de Abrão quando ele recusou as ofertas do rei de Sodoma como recompensa por sua ajuda no massacre dos exércitos confederados sob Quedorlaomer. O Senhor imediatamente apareceu a ele e disse: “Eu sou o teu escudo, e o teu grandíssimo galardão” (Gn 15:1). Poderia haver uma Pessoa maior em todo o universo com quem podemos andar? Por outro lado, se um crente escolhe continuar com alianças e amizades mundanas, ele não pode esperar ter esse senso especial da comunhão do Senhor em sua vida. Isso não significa que o Senhor o abandona (Mt 28:20; Hb 13:5), mas que não recebe esse senso especial de Sua presença (Lc 24:15-16). Esse privilégio é condicionado à obediência (Jo 14:21-23). Haverá também outros Cristãos com quem podemos andar no caminho, mas isso não é mencionado aqui (2 Tm 2:22).
Capítulo 7:1 – Esse versículo pertence à exortação do capítulo 6. Com o encorajamento das promessas do Senhor nas mãos, Paulo diz: Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus. Essa exortação vai além de não estar em jugo desigual com incrédulos. Uma pessoa poderia fazer isso e ainda viver na impiedade. Separar-se das conexões externas impuras com o mundo deveria estar associado à limpeza de toda a imundícia da carne e do espírito dentro de nós. Isso mostra que é possível separar-se das coisas exteriormente, mas continuar com todos os tipos de impureza interiormente em nossas vidas pessoais. Portanto, a exortação não estaria completa sem que esse lado das coisas fosse abordado.
Nota: Paulo diz: “Purifiquemo-nos... A purificação que ocorre quando somos salvos por crer no evangelho é feita para nós pelo Senhor (1 Co 6:11; 1 Jo 1:7; Ap 1:5), mas esta limpeza é algo que somos responsáveis por fazer.


[1] N. do T.: A palavra grega Aoristos significa sem limite. Numa tradução mais livre, significa indefinido ou indeterminado. Indica uma ação que ocorreu pontualmente em algum momento do passado, sem relacioná-la com o presente. A ação ocorre uma única vez, de uma vez por todas.

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