1) Sua Afeição Genuína por Eles
Capítulo
6:11-13 – Paulo diz, “Ó coríntios, a
nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado. Não estais
estreitados em nós; mas estais estreitados nos vossos próprios afetos. Ora, em
recompensa disto (falo como a filhos), dilatai-vos também vós”. Sua boca
sendo aberta para os coríntios se refere ao fato de que ele havia lhes revelado
francamente as fontes secretas de suas ações no serviço ao Senhor. Ele não
reteve nada ao expor seus desejos e seus motivos diante deles. Seu coração
estava verdadeiramente “dilatado”
aos coríntios; ele verdadeiramente os amava, e isso o levou a abrir a sua boca
em sinceridade para com eles (Mt 12:34). Ele sinceramente lhes roga que
respondam de maneira recíproca e que deixem seus sentimentos virem sobre ele.
Ele disse: “dilatai-vos também vós”.
Qualquer restrição de afeto entre os coríntios e Paulo não era da parte dele;
ele não estava retendo seu afeto por eles. O obstáculo era obviamente da parte
deles.
Capítulo 6:14-16 – Uma vez que havia um óbvio obstáculo no fluir
das afeições deles, Paulo aproveita para resolver isso. Ele relaciona as afeições limitadas deles aos jugos desiguais que haviam formado com o mundo. Eles
tinham sido descuidados em suas associações e isso teve o efeito de diminuir
suas afeições para com o Senhor e Seu povo. Aqui reside o perigo do jugo
desigual.
Um
jugo desigual é qualquer coisa que ligue o crente a um incrédulo em um
propósito comum – seja social, comercial, religioso, marital ou político. Tais
falsos elos minam a comunhão Cristã e têm uma maneira de diminuir nossas afeições para com o Senhor e nossos
irmãos. Nós não somos “do mundo”
porque somos homens celestiais por meio do chamado do evangelho. No entanto,
temos que viver “no mundo” (Jo
17:11-15), mesmo assim, não precisamos nos prender a um jugo desigual com o
mundo. Temos de fazer nossos negócios no mundo e, assim, entramos em contato
com ele, mas não precisamos nos envolver pessoalmente com ele. Influências
negativas do mundo não resultam do contato,
mas da cumplicidade com ele. Era a
cumplicidade o problema dos coríntios. Portanto, o remédio de Paulo para suas
limitações afetivas era: “Não vos
prendais a um jugo desigual com os infiéis”.
Nestes
versículos (14-16), Paulo faz cinco
perguntas retóricas destinadas a mostrar quão desnaturais, incompatíveis e inseguras são as alianças com o mundo. Cada uma
toca em um diferente terreno de incompatibilidade em relação aos crentes e
incrédulos.
- “Justiça com injustiça” – a esfera do comportamento moral.
- “Luz com trevas” – a esfera do conhecimento espiritual.
- “Cristo e Belial” – a esfera da autoridade espiritual.
- “Fiel com o infiel” – a esfera da fé.
- “O templo de Deus com ídolos” – a esfera da adoração.
As cinco palavras que Paulo usa – “sociedade”, “comunhão”,
“concórdia”, “parte” e “consenso” –
devem ser cuidadosamente observadas. Tais palavras implicam cumplicidade com o
mundo. Alguns gostariam de ignorar a exortação de Paulo relegando-a ao vínculo
matrimonial, tornando-a nada mais que isso, mas suas observações a respeito do
jugo desigual vão muito além dos casamentos com incrédulos. Um jugo desigual
pode ser um elo social com os
incrédulos em jogos, clubes, associações, fraternidades, etc. (Tg 4:4; 1 Jo
2:15). Ou, poderia ser uma parceria
comercial com incrédulos (Dt 22:10; 2 Cr 20:35-37; Pv 6:1-5). Ou, poderia
ser uma ligação eclesiástica com uma
seita no Cristianismo, onde os incrédulos são autorizados a participar nos
serviços de comunhão (1 Co 11:19). Ou poderia ser um laço matrimonial (Dt 7:3-4; Js 23:12-13; 1 Co 7:39). Um Cristão não
deve se casar com um incrédulo, mas se um crente está casado com um, esta
passagem não justifica o divórcio (1 Co 7:12-16). Ou, o jugo desigual poderia
ser um elo político com os
incrédulos, unindo-se aos seus empenhos políticos (2 Cr 18:1-34, 25:5-10; Is 45:9).
O ponto aqui é que existem duas grandes esferas opostas de ação moral e
espiritual que não podem seguir juntas na vida de um Cristão sem sérias
ramificações práticas.
Capítulo 6:17-18 – Para encorajar os coríntios a se separarem dos
vínculos ímpios com o mundo, Paulo cita o Próprio Senhor, dizendo: “Pelo que saí do meio deles, e
apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei”.
Esta afirmação no grego original está no tempo aoristo[1],
significando que deveria ser uma coisa de uma vez por todas na vida de um
crente.
Portanto, os coríntios precisavam não apenas mudar sua atitude em
relação a Paulo (vs. 11-13), mas também em relação ao mundo (vs. 14-16). Eles
precisavam abrir seus corações para Paulo
e fechar seus corações para o mundo.
Todos nós precisamos tratar o mundo como ele realmente é – um inimigo de nossas
almas. A alma do Cristão é sempre atraída de volta ao mundo, assim como Israel
foi constantemente tentado a voltar-se para a idolatria. Existem algumas razões
muito importantes pelas quais a separação é necessária na vida de um Cristão.
Sem ela:
- Nossa santidade pessoal será comprometida pelas impurezas do mundo (2 Co 6:17).
- Nossa comunhão com o Senhor será seriamente ameaçada, se não totalmente perdida (Jo 14:21-23).
- Nossos corações serão afastados do Senhor (Dt 7:2-4).
- Nossos padrões morais se corromperão (1 Co 15:33).
- Nosso crescimento espiritual será impedido (Os 7:8).
- Nossa energia espiritual e discernimento ficarão enfraquecidos (Os 7:9).
- Nosso testemunho pessoal terá pouco poder perante os outros (Gn 19:14).
Separação das pessoas e coisas mundanas não significa que o crente
acabe andando sozinho. O Senhor faz uma promessa tripla de nos compensar com
Sua companhia pessoal; é-nos dado um senso especial de Sua presença.
Ele diz:
- “Eu vos receberei”.
- “Eu serei para vós Pai”.
- “E vós sereis para Mim filhos e filhas”.
Esta é uma recompensa maravilhosa prometida àqueles que andam em
separação – o Senhor promete ser o nosso Amigo mais próximo e mais querido!
Isso nos lembra de Abrão quando ele recusou as ofertas do rei de Sodoma como
recompensa por sua ajuda no massacre dos exércitos confederados sob Quedorlaomer.
O Senhor imediatamente apareceu a ele e disse: “Eu sou o teu escudo, e o teu grandíssimo galardão” (Gn 15:1).
Poderia haver uma Pessoa maior em todo o universo com quem podemos andar? Por
outro lado, se um crente escolhe continuar com alianças e amizades mundanas,
ele não pode esperar ter esse senso especial da comunhão do Senhor em sua vida.
Isso não significa que o Senhor o abandona (Mt 28:20; Hb 13:5), mas que não
recebe esse senso especial de Sua presença (Lc 24:15-16). Esse privilégio é condicionado
à obediência (Jo 14:21-23). Haverá também outros Cristãos com quem podemos andar no caminho, mas isso não é mencionado
aqui (2 Tm 2:22).
Capítulo
7:1 – Esse versículo pertence à exortação do capítulo 6. Com o encorajamento
das promessas do Senhor nas mãos, Paulo diz: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a
imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus”. Essa exortação vai
além de não estar em jugo desigual com incrédulos. Uma pessoa poderia fazer
isso e ainda viver na impiedade. Separar-se das conexões externas impuras com o
mundo deveria estar associado à limpeza de toda a imundícia da carne e do
espírito dentro de nós. Isso mostra que é possível separar-se das coisas exteriormente, mas continuar com todos
os tipos de impureza interiormente em
nossas vidas pessoais. Portanto, a exortação não estaria completa sem que esse
lado das coisas fosse abordado.
Nota: Paulo diz: “Purifiquemo-nos...” A purificação que ocorre quando somos
salvos por crer no evangelho é feita para nós pelo Senhor (1 Co 6:11; 1 Jo 1:7;
Ap 1:5), mas esta limpeza é algo que somos responsáveis por fazer.
[1] N. do T.: A palavra grega Aoristos significa sem limite. Numa tradução mais livre, significa indefinido ou indeterminado. Indica uma ação que
ocorreu pontualmente em algum momento do passado, sem relacioná-la com o
presente. A ação ocorre uma única vez, de uma vez por todas.
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