2) O Tribunal de Cristo nos Comanda a Usar
Nossas Vidas para as Coisas Eternas
Vs. 10-13 –
Isso leva Paulo a falar do “tribunal de
Cristo”, que foi outra grande coisa que o motivou a servir ao Senhor. Ele
disse: “Todos devemos comparecer
ante o tribunal de Cristo”. Essa é uma referência à sua mais ampla
aplicação. “Todos” neste versículo
refere-se à toda a humanidade – que inclui incrédulos. Ele diz: “Ou bem, ou mal”. Os crentes receberão
o “bem” em forma de recompensas e os
incrédulos receberão o “mal”, sendo
banidos da presença de Deus para o lago de fogo. Os crentes virão perante o
tribunal imediatamente após serem arrebatados para o céu, mas os incrédulos que
morrerem em seus pecados serão julgados mais de 1.000 anos após, depois do
Milênio (Ap 20:11-15).
Para
o crente, é a hora em que o Senhor vai rever nossas vidas e nos recompensar
pelo que fizemos por Ele. O lado solene desta sessão é a possibilidade de
sofrermos a perda da nossa recompensa, se tivermos vivido nossas vidas apenas
para as coisas temporais (1 Co 3:15). Essa ideia impeliu Paulo ao serviço
zeloso para o Senhor. Deveria ter o mesmo efeito em nós.
Assim
como existem dois tipos de juízes na
sociedade, o Senhor julgará toda a humanidade em um ou outro desses dois modos. Primeiramente, há um
magistrado legal que é investido de autoridade nos tribunais da Terra. Ele tem
poder para julgar um criminoso e condená-lo à prisão. O Senhor tratará com os
incrédulos desta forma triste e solene (Ap 20:11-15). O crente nunca enfrentará
esse tipo de julgamento porque seu caso foi resolvido quando ele recebeu o
Senhor Jesus como seu Salvador e descansou na fé em Sua obra consumada na cruz.
O Senhor disse: “quem ouve a Minha palavra,
e crê naquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação [julgamento – JND]” (Jo 5:24). Por isso, o crente tem confiança “no dia do juízo [julgamento
– JND]” (1 Jo 4:17).
Em
segundo lugar, há um juiz (um árbitro) em uma exposição – ou seja, uma mostra
de arte. Esse tipo de juiz tem conhecimento em um determinado campo de especialidade
para decidir os méritos dos objetos diante dele. Ele está na exposição para
avaliar a qualidade e mão de obra das peças em exibição. Da mesma forma, o
Senhor irá rever a vida do crente no caráter deste juiz, avaliando as coisas em
nossas vidas que foram feitas para Ele e nos recompensando de acordo. O caráter
de toda a sessão para os crentes será: revisão,
recompensa e consequente regozijo.
É
significativo que cada vez que o tribunal de Cristo é mencionado no Novo
Testamento, ele é visto de um ponto de vista diferente. Quando os colocamos
todos juntos, aprendemos que o Senhor examinará todos os aspectos de nossas
vidas. As várias áreas de revisão são:
- Nossos caminhos em geral (2 Co 5:9-10).
- Nossas palavras (Mt 12:36).
- Nossas obras de serviço (1 Co 3:12-15).
- Nossos pensamentos e motivos (1 Co 4:3-5).
- Nossos exercícios pessoais quanto às questões de consciência (Rm 14:10-12).
Uma
pergunta que muitos Cristãos têm em relação ao tribunal de Cristo é: “Por que
temos de passar por isso? É realmente necessário que o crente seja julgado
dessa maneira?” A resposta é: “sim”, pois o Senhor não fará algo que não seja
necessário. Há duas razões principais
para esta sessão: uma tem relação futura e
a outra tem relação presente.
a) Aumentará o Louvor Eterno a Deus
Primeiro,
quanto à influência futura do tribunal, é que resultará em um aumento do louvor
a Deus no céu. Todos os crentes concordam que o Senhor merece o mais completo
louvor de toda pessoa redimida; o resultado imediato do tribunal de revisão
fará exatamente isso. Existem três
maneiras pelas quais isso será realizado:
I) O Senhor magnificará a graça de Deus
perante os nossos olhos, pelo que o nosso apreço por ela será
significativamente aprofundado e, assim, produzirá um maior volume de louvor de
nossos corações. O Senhor reverá
nossas vidas e veremos nossos pecados à luz da infinita santidade de Deus.
Coisas que podemos pensar que não são tão seriamente graves agora, veremos
então como pecado de fato. Conhecemos nossos pecados agora como sendo uma pilha
repugnante – e certamente não estamos orgulhosos dela – mas naquele dia Ele nos
mostrará que eles eram uma montanha! Tudo então será visto em sua verdadeira
luz, e aprenderemos sobre a verdadeira maldade de nossas naturezas pecaminosas
caídas.
Uma vez que diz: “que tiver feito por
meio do corpo” – e estávamos todos em nossos corpos antes de sermos salvos
– essa manifestação será de toda a
nossa vida, não apenas de depois que fomos salvos. Se Ele não revisse certos
episódios de fracasso e vergonha em nossas vidas, haveria alguma reserva de
nossa parte, e Deus não quer isso – e nós também não iríamos querer. A
brilhante eternidade diante de nós seria obscurecida em parte pela sensação de
que um dia eles poderiam ser trazidos à luz. Portanto, o caminho de Deus é que
tudo seja tomado e colocado fora do caminho para sempre. (Temos cinco ou seis
expositores respeitados que afirmam que esta manifestação não será um assunto
público perante todos os santos no céu, mas algo privado com o Senhor.)
Então, depois de nos mostrar os nossos
pecados à luz da Sua santidade, nós vamos ver a graça de Deus elevar-se acima
de todos eles, colocando-os todos na justa base da obra consumada de Cristo.
Vamos entender a verdade de Romanos 5:20 de um modo mais profundo: “onde o pecado abundou, superabundou a
graça”. O resultado será um romper alto e eterno de louvor da companhia
redimida. O volume de louvor será muitas vezes maior do que se não tivéssemos
passado por esse processo de revisão.
II)
O Senhor revelará a sabedoria de Seus
caminhos conosco na Terra. Isso também aumentará o volume do louvor. Todos
nós tivemos algumas coisas difíceis e desconcertantes acontecendo em nossas
vidas, e muitas vezes nos perguntamos por que o Senhor permitiu isso. A revisão
no tribunal justificará Deus em Seus caminhos conosco. O Senhor nos levará por
meio de nossas vidas, passo a passo, e nos mostrará que Ele não cometeu nenhum
erro no que Ele nos permitiu passar. Naquele dia, Ele responderá a todas as
perguntas difíceis que temos sobre nossas vidas, e Ele nos mostrará que havia
um propósito divino de amor por trás de tudo e um “sendo necessário” para tudo (1 Pedro 1:6). No tribunal, o Senhor
nos mostrará que não derramamos uma lágrima despercebida. Aprenderemos que cada
grama de sofrimento e tristeza pela qual passamos foi pesada em Suas divinas
balanças no mais terno amor, antes de ser colocado sobre nós. Ele nos mostrará
que isso foi usado para nos conformar à Sua própria imagem (Rm 8:28-29). E
diremos: “O caminho de Deus é perfeito”
(Sl 18:30). Como resultado, nós O louvaremos de uma maneira muito maior e mais
significativa do que jamais faríamos, se não tivéssemos tido a experiência do
tribunal.
III)
O Senhor nos concederá recompensas por
aquilo que fizemos por causa do Seu nome. Ele usará a ocasião do tribunal
para determinar nossas recompensas no reino. Quando recebermos uma recompensa
pela menor coisa que fizemos por Ele – até mesmo algo tão insignificante como
dar água em Seu nome (Mt 10:42) – seremos surpreendidos por isso e O louvaremos
muito mais. Naquele dia, Ele encontrará algo para recompensar todo crente. “então cada um receberá de Deus o louvor”
(1 Co 4:5). Ele encontrará coisas feitas para Si que há muito esquecemos, e
ficaremos maravilhados que Ele nos dará uma recompensa por isso.
Feitos
grandiosos que nos tornou convencidos,
Ele mostrará
que eram apenas pecado.
Atos de
bondade, há muito esquecidos,
Eram para Ele,
é o que será mostrado.
É
ainda mais difícil acreditar que, quando chegarmos lá, Ele nos louvará! “então
cada um receberá de Deus o louvor”. Podemos ter pensado que iríamos ao céu
para louvá-Lo – o que certamente é verdade – mas quando chegarmos lá Ele também
nos louvará! Isso é surpreendente. Não será no senso comum de adoração, é
claro, mas Ele dirá a cada um de nós: “Bem
está, servo bom e fiel” (Mt
25:21). Nós seremos maravilhosamente humilhados pela Sua graça e bondade, e o
grande resultado será que nós encheremos os céus com o Seu louvor porque Ele é
digno.
b) Nos Motiva a Viver para Cristo
O outro
propósito para o tribunal de Cristo é nos motivar a viver para Cristo agora.
Este é o contexto no qual Paulo estava escrevendo neste quinto capítulo. Deus
pretende que esse evento futuro tenha
um efeito presente em nós. Quando
percebemos que tudo o que fazemos para o Senhor vai ter uma recompensa no dia futuro,
e que podemos perder nossa recompensa se vivermos para nós mesmos agora, isso
deve nos motivar a começar a ajuntar tesouros no céu para aquele dia (Mt
6:20-21).
Já
foi dito que não devemos fazer as coisas apenas para obter uma recompensa; tudo
deve ser feito com o desejo de agradar ao Senhor. Isso é verdade; nosso maior
motivo para as coisas que fazemos deve ser puramente porque amamos o Senhor e
queremos agradá-Lo. No entanto, o Sr. Kohler costumava dizer: “Quero pegar
todas as coroas que conseguir, porque naquele dia terei mais para lançar a Seus
pés!” (Ap 4:10).
V.
11 – A realidade da revisão diante do tribunal de Cristo num futuro próximo
produziu um duplo efeito que estava presente em Paulo e seus cooperadores.
Deveria fazer o mesmo efeito em nós. Em primeiro lugar, eles foram motivados
pelo “temor que se deve ao Senhor”. O pensamento do “temor” de Deus contra o pecado fez com que pensassem nos
incrédulos e em sua sorte ante o tribunal. Isso os levou a usar toda a sua
energia para “persuadir os homens” a
fugir da ira vindoura. Assim, Paulo se lançou na obra do Senhor. Nota: ele era
fervoroso em seu serviço, não para obter uma recompensa, mas sim por
preocupação com aqueles que viviam sem referência à eternidade. Em segundo
lugar, o pensamento do tribunal o levou a viver agora como “manifesto a Deus” e nas “consciências”
dos santos. Em outras palavras, ele queria ser transparente diante de Deus e
dos homens em relação a seus motivos no serviço. Ele desejou que todos vissem
que seus motivos eram puros.
- Quanto ao mundo – Paulo procurou “persuadir os homens”.
- Quanto a ele – Paulo andava conscientemente sob os olhos do Senhor que tudo vê, como “manifesto a Deus”.
- Quanto aos santos – Paulo procurou andar de um modo que “recomendasse” a si mesmo às suas consciências.
Sabendo
que logo seremos “manifestos” diante
do tribunal de Cristo, devemos estimular um exercício presente em nós para usar
nossa energia no serviço do Senhor, e para viver aberta e honestamente diante
de Deus e dos homens.
Vs.
12-13 – Percebendo que o que ele acabara de dizer poderia ser mal entendido como
sendo um autoelogio, Paulo esclarece suas declarações dizendo que não estava
tentando “recomendar-se” a si mesmo.
Ele estava, antes, deixando os santos conhecerem a sinceridade piedosa de sua
vida e ministério, de modo que eles teriam “algo
para responder” (KJV) àqueles que o atacavam com seus relatos caluniosos.
O
zelo que impulsionou Paulo a servir ao Senhor com toda a sua energia levou seus
críticos a rotulá-lo como um fanático que estava “fora” (JND) de si mesmo. Sua pregação e ensino apaixonados foram
interpretados como sendo de um homem que era mentalmente instável e, portanto,
não confiável.
Paulo responde a essa
insinuação dizendo que se sua devoção ao Senhor se parecia assim, em ambos os
casos (quer estivesse em êxtase ou sóbrio) era porque seus motivos eram
totalmente não egoístas. Ele amava a Deus e se importava profundamente com os
santos de Deus.
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